Para Alexandre Ostrowiecki, “a política brasileira é psicopata”. Em entrevista concedida à Revista Oeste, o criador do Ranking dos Políticos declarou que, “neste país, rouba-se de quem é mais pobre, miserável e largado para dar aos grupinhos de cima. O Estado brasileiro é um Robin Hood ao contrário”.
CEO da Multilaser, empresa de eletroeletrônicos e informática, Ostrowiecki descreveu as mazelas do sistema político brasileiro no livro O Moedor de Pobres, lançado em 2021 pela LVM Editora.
Confira os principais trechos da entrevista.
Por que decidiu escrever O Moedor de Pobres?
O livro é uma resposta ao anseio de participar da melhoria do país. Todos os cidadãos têm duas opções na vida: a primeira delas, a trincheira. Isso significa lutar por um país mais justo, com menos miséria, menos corrupção e menos crime. A outra opção é o sofá. Apesar de a segunda alternativa parecer mais confortável, penso que meu propósito de vida se encaixa melhor na trincheira.
Como o senhor avalia o Estado brasileiro?
O sistema brasileiro é psicopata. Penso que há três tipos de Estado: o primeiro, mais liberal, em que há pouco envolvimento com a economia. Nesse modelo, as pessoas são livres para enriquecer, conforme sua capacidade e sorte permitirem. A riqueza fica nas mãos dos cidadãos. O segundo tipo de Estado, por sua vez, retira o dinheiro dos que estão na parte de cima da pirâmide social e entrega para aqueles que estão na base. A intenção é a busca de uma maior equidade de renda. No Brasil, porém, há um terceiro sistema: rouba-se de quem é mais pobre, miserável e largado para dar aos grupinhos de cima. O Estado brasileiro é um Robin Hood ao contrário.
O senhor argumenta que, a partir do século 19, a vida das pessoas prosperou de maneira inédita na História. O que motivou essa ascensão?
Os países que aderiram a um pacote de valores que inclui o capitalismo de livre mercado, o respeito às leis e o desenvolvimento de novas tecnologias prosperaram consideravelmente. Houve um aumento da renda per capita, crescimento da produtividade e geração de riqueza sem precedentes. Inicialmente, isso foi observado na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental; depois, os países asiáticos — Singapura, Taiwan, Japão e Coreia do Sul — iniciaram o processo de enriquecimento. A China, inclusive, começou a crescer depois de abandonar o sistema econômico socialista, que estava falido. Onde há livre mercado, há melhoria nas condições de vida.
Por que o capitalismo soterrou o socialismo?
Isso se deve à natureza do sistema capitalista, calcado na liberdade. Nesse modelo, as decisões não são tomadas por um comitê central de burocratas, como ocorre no socialismo. É impossível o Estado alocar todos os recursos disponíveis de forma eficiente e atender às demandas da população. Por isso, é preferível aderir ao sistema capitalista, sem controle estatal. Quando o preço dos produtos é regulado pelo mercado, o dinheiro migra para as empresas mais eficientes. Isso resulta no desenvolvimento de novas tecnologias, na busca por produtividade e no aumento do poder de compra dos trabalhadores. Na prática, há melhora no padrão de vida, o que significa menos crianças morrendo de fome, menos mortes por doenças contagiosas, mais conforto e menos violência.
Quando o governo compra alguma coisa, com raríssimas exceções, existe corrupção
O senhor afirma que uma mudança na estrutura do Estado depende, antes, de uma mudança de mentalidade da população. Como assim?
Estamos mergulhados em um contexto similar ao que observamos na América Latina, com ideias populistas e de extrema esquerda. Muitas vezes, professores universitários e intelectuais difundem ideias em que o empreendedor é categorizado como malvado. Isso não é verdade. Existem bons patrões e maus patrões, assim como há bons empregados e maus empregados. Há ainda a fantasia de que os serviços estatais são sempre bons, embora isso seja realidade apenas em raras exceções. De maneira geral, os serviços estatais são piores que aqueles oferecidos pela iniciativa privada. Essas ideias de extrema esquerda mantêm o Brasil atrasado.
Por que o setor público funciona pior que a iniciativa privada?
Em primeiro lugar, não existe competição. Na iniciativa privada, as empresas que tiverem prejuízo vão quebrar. Os donos perderão tudo, os funcionários ficarão desempregados. No setor público, isso não acontece. Os eventuais prejuízos serão repassados aos cidadãos. Nós pagamos a conta. E aqui está o segundo problema: por não arcarem com os prejuízos, as companhias estatais têm garantia de sobrevivência. Em terceiro lugar, há pouco foco no resultado. Geralmente, as empresas privadas dispõem de bons profissionais e maus profissionais, mas os trabalhadores competentes tendem a ser promovidos, e os incompetentes tendem a ser demitidos. Então, há um incentivo para que as pessoas se dediquem, queiram estar entre os melhores. No setor público, há garantia de permanência no emprego; a estabilidade é real. É praticamente impossível demitir funcionários públicos. O cidadão consegue comprovar essas questões na prática, basta comparar o atendimento nas repartições públicas com o atendimento no McDonald’s. Quem é mais rápido: o governo, na entrega de correspondências, ou o McDonald’s, na entrega de Big Macs? O quarto motivo é a dificuldade de controlar todos os setores das empresas. Em uma padaria, o dono supervisiona o trabalho. Os órgãos públicos, entretanto, não podem ser observados por 200 milhões de pessoas. Então, as repartições públicas caem nas garras de grupos que têm interesses escusos.
No livro, há um capítulo inteiramente dedicado à corrupção. Por quê?
É um tema que preocupa os brasileiros. Geralmente, a corrupção ocorre nas compras. Quando o governo compra alguma coisa, com raríssimas exceções, existe corrupção. É nessa ocasião em que há o sujeito com um carimbo na mão, determinando qual produto deve ser adquirido. A partir do momento em que esse funcionário tem o poder de dizer o que deve ser comprado, os grupos de interesse tentarão corrompê-lo. O Petrolão foi basicamente isso: funcionários públicos da Petrobras cobravam propina de fornecedores da petrolífera. O melhor jeito de resolver o problema da corrupção é simplesmente não ter o que vender. A privatização contribui para esse processo, porque conseguimos tirar do setor público o poder de vender os carimbos. Desestatizar é ruim apenas para os grupinhos que assaltam os cofres das empresas públicas.
Alguém precisa simplificar esse hospício tributário brasileiro
O senhor é favorável ao voto distrital. Por quê?
O sistema proporcional, atualmente em vigor no Brasil, é o pior possível. A principal vantagem do voto distrital é a proximidade do cidadão com os políticos. A população tem a possibilidade de cobrar os candidatos em eventuais deslizes, algo que não acontece no sistema proporcional. Além disso, as campanhas eleitorais são mais baratas. Em vez de fazerem as campanhas em todo o Estado de São Paulo, por exemplo, que tem 40 milhões de habitantes, os políticos terão de fazê-las nos distritos, onde a concentração de pessoas é menor. Minha proposta é dividir o país em aproximadamente 200 distritos, com apenas um representante parlamentar por região. No momento, há 513 deputados na Câmara, e defendo a redução desse número para 200. Os partidos poderão lançar só um candidato, e os eleitores terão de escolher entre as opções disponíveis. Na prática, há três ou quatro partidos relevantes, com reais chances de vencer a disputa eleitoral. Com isso, as campanhas se tornarão mais simples. Não haverá aquelas campanhas insuportáveis, em que os políticos usam cinco segundos na televisão para gritar e apresentar suas propostas. Os dois candidatos mais votados vão para o segundo turno, e a população decide qual deles será eleito.
Como um governo liberal consegue criar programas sociais sem flertar com políticas populistas?
A pergunta é: como um Estado ineficiente, corrupto e inchado conseguiria criar programas de assistência social? O Estado que proponho custa muito menos, e isso permite a redução da carga tributária. Atualmente, a tributação é essencialmente sobre o consumo — afeta o preço da cesta básica, do remédio e da conta de luz. Quem mais sofre são os pobres. No momento em que o Estado diminui a carga tributária, automaticamente passa a fazer um programa de assistência social dez vezes mais poderoso que o Bolsa Família. Nesse caso, o dinheiro está sendo colocado no bolso das pessoas. Vale ressaltar que programas sociais não pertencem à esquerda ou à direita. É algo universal. Milton Friedman, o papa do liberalismo, foi um dos primeiros a defender projetos para acudir a população mais pobre. A ideia do economista norte-americano inspirou a criação de programas como Bolsa Escola, Bolsa Família e Auxílio Brasil. Não há incompatibilidade em ter uma visão liberal na economia e distribuir renda aos mais pobres.
Quais reformas econômicas precisam ser feitas para o Brasil se aproximar das potências mundiais?
Em primeiro lugar, uma reforma administrativa, que enxugue o tamanho do Estado. É necessário vender estatais e estabelecer critérios para a demissão de funcionários públicos ineficientes. É preciso criar métricas de performance dos trabalhadores e premiar os melhores. É assim que as empresas funcionam. Uma reforma tributária também precisa ser levada adiante, porque alguém precisa simplificar esse hospício tributário brasileiro. Somos um caos de regras, portarias e normas; ninguém consegue entender. O Brasil é o país que demora mais horas para calcular seus tributos. São aproximadamente 2,6 mil horas gastas por empresa, apenas para saber quanto terão de pagar em impostos.
Por que o senhor decidiu criar o Ranking dos Políticos?
O Ranking dos Políticos considera as eleições para o Congresso Nacional mais importantes do que as eleições presidenciais. Câmara e Senado estão no centro do poder e das decisões do Brasil. O dinheiro está ali, e a população não tem a menor ideia disso. Os cidadãos votam em qualquer um, muitas vezes em troca de um frango. E logo esquecem o nome do candidato em quem votaram. Isso é uma catástrofe. Precisamos escolher bons parlamentares, parar de votar em maus políticos. Como as informações sobre os candidatos são difíceis de obter, o Ranking dos Políticos criou uma plataforma para separar o joio do trigo. Há critérios objetivos e apartidários que mostram quais políticos têm boa atuação. Não julgamos os parlamentares por palavras, mas por ações.
Fonte: Revista Oeste