Saraiva e Cultura, as maiores redes de livrarias do Brasil até 2018, estão em processo de recuperação judicial. Enquanto isso, a mineira Leitura e a paranaense Curitiba ocuparam o posto de líderes no mercado livreiro do Brasil. Ao contrário do varejo nacional e do global, que ampliam a operação digital, as duas redes de livrarias expandem as lojas físicas no país. “A gente acredita no fortalecimento da livraria física, vários movimentos tanto fora quanto aqui mostram a força das lojas”, disse Rute Pedri, diretora de varejo do Grupo Livrarias Curitiba, ao colunista da Revista Oeste Bruno Meyer. “Nós somos um ser social. O isolamento não é para nós. A experiência que passamos mostrou que se isolar não é para o ser humano, ninguém gostou. A gente gosta de ficar junto, com as pessoas.”
Expansões físicas do mercado livreiro
Nas próximas semanas, as Livrarias Curitiba vão abrir mais quatro lojas no interior de Santa Catarina e em São Paulo. “O interior paulista é muito rico, permeado por universidades e escolas, com renda per capita alta. Cabem mais livrarias físicas.” A ideia das megastores em shoppings centers ficou para trás. Com aluguéis exorbitantes e sem contar com a concorrência digital do porte da Amazon, a Saraiva e a Cultura se atropelaram nessa estratégia de expansão há uma década. Foi o estopim para o tombo das duas. A nova orientação: nada de ostentação nem espaços amplos. As novas livrarias são de médio porte, com até 500 metros quadrados, bom acervo e espaço para o consumidor se sentar e folhear os livros. Cada unidade da Curitiba emprega cerca de 20 profissionais. A empresa não abre faturamento, mas diz que, desde o último trimestre de 2021, os níveis de vendas e faturamento bateram com o mesmo período de 2019, ano pré-pandemia, o que é motivo de comemoração interna. O primeiro trimestre de 2022 manteve a mesma batida de vendas dos últimos três meses do ano passado.-Publicidade-
Modelos distintos
Apesar do relacionamento amistoso entre as redes, os modelos de negócios focados na expansão da Leitura e da Curitiba são opostos um do outro. A Leitura, liderada pelo mineiro Marcus Teles, tem uma gestão focada num modelo de franquias, com sócios-gerentes com direito a coparticipação nos lucros, e o clã Teles no controle acionário. Com 700 funcionários no grupo, a Curitiba banca o investimento de cada unidade e recruta do gerente ao caixa. Há duas semanas, a rede abriu uma loja em São Bernardo do Campo, no interior paulista. A receptividade surpreendeu o conselho do Grupo: mil pessoas entraram na inauguração, sendo cem delas com um pacote na mão, quando se registra a venda. No dia seguinte, sábado, o número de pessoas que passaram pela loja chegou a 4 mil. “A experiência da livraria física é insubstituível, e continua próspera”, diz Pedri. “A livraria é uma das poucas áreas em que você pode ir com a família toda para adquirir desde um livro de pano para o bebê até uma obra para um adulto aprimorar a carreira.” Mesmo com as novas aberturas de lojas, é bom registrar: 55% das vendas de livros no Brasil são on-line, tendo o gigante norte-americano Amazon praticamente na totalidade. Os outros 45% são vendidos em lojas de pequeno a grande porte.
Um setor que ascende
Em 2021, a venda de livros no Brasil gerou R$ 2,28 bilhões, quase 30% a mais do que no ano anterior. No total, as livrarias venderam 55 milhões de exemplares. Os números foram motivo de festa para os editores nacionais: nunca um relatório do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) apresentou uma renda acima de R$ 2 bilhões.
Fonte: Revista Oeste