Por Pr. Rilson Mota
Flora tem apenas nove anos, mas carrega uma força e resiliência que muitos adultos jamais experimentaram. Entre as aulas de matemática, que ela adora, e as histórias da Turma da Mônica, que devora com entusiasmo, sua vida é entremeada por sessões de quimioterapia e desafios médicos que vão muito além de sua idade. A trajetória dessa menina é apenas um exemplo das inúmeras crianças e famílias que enfrentam não só a doença, mas também as lacunas de um sistema de saúde que muitas vezes as abandona.
O Diagnóstico: Um Portal Sem Volta
Aos seis meses, um leve estrabismo foi o primeiro sinal de que algo não estava certo. Dois anos depois, a confirmação: Flora tinha um astrocitoma pilocítico, um tumor cerebral que já alcançava seis centímetros. “Foi como passar por um portal onde nada mais seria como antes”, lembra Cris Pereira, mãe da menina.
Após a primeira cirurgia, em 2016, iniciou-se uma rotina exaustiva de tratamentos, com mais de 120 sessões de quimioterapia e uma batalha contínua contra os altos custos de medicamentos especializados. Atualmente, Flora realiza uma terapia-alvo, fruto do avanço da ciência no tratamento de cânceres pediátricos, mas que depende de um mapeamento genético e medicamentos que custam cerca de R$ 12 mil por mês.
O Fardo Invisível: Abandono e Desigualdade
O peso emocional e financeiro dessa luta não recai apenas sobre a criança, mas sobre toda a família. Cris e Guto, ambos músicos, enfrentam a batalha com coragem, mas relatam a dor de ver tantas outras mães abandonadas nessa jornada. “Muitas vivem literalmente dentro de hospitais, sem apoio, sem rede de acolhimento, e às vezes sem dinheiro sequer para um lanche”, desabafa Guto.
Esse abandono é um reflexo de um sistema que, em muitos casos, prioriza outras agendas e negligencia investimentos essenciais na saúde pública. Apesar de avanços, como a ampliação do acesso ao diagnóstico precoce, ainda há falta de estrutura em diversas regiões do país, especialmente em áreas mais vulneráveis.
O neurocirurgião pediátrico Márcio Marcelino, que acompanha Flora, ressalta que o diagnóstico precoce é fundamental, mas que muitas famílias passam meses peregrinando por emergências sem respostas. “Isso não acontece só no Brasil, mas aqui o impacto é ainda maior devido à desigualdade no acesso aos serviços especializados”, explica.
Os Desafios do Sistema de Saúde
Embora o SUS ofereça tratamentos de alta complexidade em centros especializados, como o Hospital da Criança de Brasília, o gargalo está na detecção inicial e na continuidade do cuidado. Muitos pacientes enfrentam longas filas para exames, falta de medicamentos e estruturas inadequadas em hospitais regionais.
Além disso, as políticas públicas voltadas ao câncer infantil carecem de maior visibilidade. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 80% dos casos de câncer infantil podem ser curados se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados. No entanto, sem campanhas de conscientização amplas e investimentos em infraestrutura, muitas famílias sequer chegam a esses serviços.
O Avanço da Ciência: Uma Luz no Fim do Túnel
Apesar dos desafios, os avanços científicos têm revolucionado o tratamento do câncer infantil. Novas terapias, como a imunoterapia e os tratamentos personalizados baseados no perfil genético do tumor, aumentam as chances de cura e melhoram a qualidade de vida das crianças. “Estamos conseguindo diferenciar subtipos de tumores e adaptar os tratamentos de forma muito mais eficaz”, destaca o médico.
No entanto, essas inovações ainda estão fora do alcance de muitas famílias devido aos altos custos e à dependência de decisões judiciais para acesso a medicamentos essenciais.
A Necessidade de Priorizar a Saúde
O caso de Flora é emblemático, não apenas por sua resiliência, mas pela realidade que escancara. A luta contra o câncer infantil não é apenas médica; é também social e política. É urgente que os governantes priorizem investimentos na saúde, ampliem programas de diagnóstico precoce e fortaleçam a rede de suporte às famílias.
Cada criança que enfrenta o câncer deveria contar com um sistema de saúde eficiente, uma rede de apoio robusta e políticas públicas que assegurem dignidade e esperança. Enquanto isso não acontece, histórias como a de Flora continuam a nos lembrar de que a luta pela vida de milhares de crianças é, acima de tudo, uma questão de justiça.
Amor Real Notícias seguirá acompanhando essa temática, dando visibilidade à luta de tantas famílias e cobrando o compromisso das autoridades em garantir saúde e dignidade a todos.
Amor Real Notícias — Informando com responsabilidade e compromisso com a verdade.
Acompanhe nossas atualizações nas redes sociais e fique bem informado:
WhatsApp | Instagram | Telegram | Facebook
Entre em contato conosco:
Email: redacao@amorrealnoticias.com.br