Quando se fala em escravidão, a maioria das pessoas remete a um passado em que africanos foram traficados e vendidos como escravos para o trabalho forçado nas colônias europeias nas Américas. Contudo, uma parte da história raramente abordada é que, entre os séculos XVI e XVIII, mais de um milhão de europeus foram capturados e vendidos como escravos na região da Barbária, no norte da África, por piratas e mercadores predominantemente muçulmanos.
O Comércio de Escravos da Barbária: A Outra Face da Escravidão
Entre 1530 e 1780, a costa da Barbária, que hoje corresponde a partes do Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia, tornou-se um centro ativo de comércio de escravos europeus. Piratas conhecidos como corsários da Barbária navegavam pelo Mar Mediterrâneo e até pelo Atlântico, atacando vilarejos costeiros na Europa e sequestrando milhares de homens, mulheres e crianças. Regiões como Espanha, Itália, França, Portugal e até a costa sul da Inglaterra foram devastadas por esses ataques.
Esses europeus capturados eram levados para cidades como Argel, Túnis e Trípoli, onde eram vendidos em mercados de escravos ou mantidos em cativeiro, exigindo-se resgates elevados de seus familiares ou países. A escravidão nesses locais era brutal: os cativos eram forçados a trabalhar em plantações, construção de fortificações, minas, galés (embarcações a remo) e até mesmo nas casas de seus mestres. Os relatos da época falam de condições extremas e trabalhos forçados que resultaram em mortes por exaustão.
Escravização de Brancos: Uma Realidade Esquecida
Estima-se que, durante esse período, cerca de 1,5 milhão de europeus foram vendidos como escravos na região da Barbária. Esse número, embora significativo, é frequentemente ignorado ou subestimado nas discussões históricas sobre a escravidão. Essa omissão contribui para a visão distorcida de que a escravidão foi um fenômeno exclusivamente perpetrado por brancos europeus contra africanos. Na realidade, a escravidão foi uma prática comum em várias culturas e continentes, com diferentes povos sendo escravizados ao longo da história — incluindo europeus capturados por africanos e árabes.
Os piratas da Barbária eram majoritariamente muçulmanos de origem árabe e berbere. Além do interesse econômico, as razões para a captura e venda de europeus incluíam rivalidades religiosas e políticas, já que muitas regiões do norte da África estavam sob domínio islâmico e viam a escravização de europeus cristãos como uma forma de retaliação contra as cruzadas e a expansão europeia na África. Essa rivalidade entre cristãos e muçulmanos na época era intensa, e o sequestro e venda de europeus tinham, para esses grupos, uma motivação religiosa e política além do aspecto econômico.
O Fim do Comércio de Escravos da Barbária
Esse comércio de escravos começou a declinar no início do século XIX, quando potências europeias, como a França e o Reino Unido, passaram a intervir militarmente na região. Em 1816, por exemplo, a Marinha britânica bombardeou a cidade de Argel em uma ação que visava libertar prisioneiros europeus e pressionar pela abolição da escravidão na Barbária. Eventualmente, o controle direto das potências coloniais europeias sobre o norte da África acabou com o comércio de escravos na região.
Desmistificando a Escravidão como uma Prática Exclusivamente Europeia
Ao abordar o comércio de escravos da Barbária, é possível desconstruir a visão de que apenas africanos foram vítimas de escravidão pelos europeus. Na verdade, a escravidão foi um sistema praticado em diferentes continentes e contextos. Na África, existiam mercados de escravos antes mesmo da chegada dos europeus, com africanos sendo vendidos para o Oriente Médio e o norte da África.
A escravidão de europeus por piratas da Barbária é um capítulo da história que revela uma realidade muito mais complexa e que desafia as narrativas simplistas. Ao longo dos séculos, povos de diferentes origens e etnias foram escravizados, e o comércio de cativos era, em muitos casos, uma prática independente de raça. Homens e mulheres brancos, negros, árabes e de várias outras origens foram escravizados em diversos momentos da história, dependendo das circunstâncias políticas, econômicas e culturais.
Conclusão
O comércio de escravos da Barbária lança luz sobre uma outra face da escravidão e mostra que a prática não foi unilateral. Se hoje vemos a escravidão transatlântica como um dos maiores crimes da humanidade, é também essencial lembrar que a captura e venda de pessoas existiu em várias sociedades e culturas. A escravidão de europeus na Barbária é um lembrete de que a opressão humana atravessou fronteiras e que, infelizmente, a exploração do próximo foi uma realidade global e multifacetada.
Por Pr. Rilson Mota
Para mais informações e atualizações sobre essa e outras notícias, acompanhe o Amor Real Notícias em nossas redes sociais e entre nos grupos de WhatsApp e Telegram para receber notícias em tempo real:
WhatsApp | Telegram | Facebook
Amor Real Notícias — Informando com responsabilidade e compromisso com a verdade.