Governos não enviarão representantes ao evento, como é praxe em Jogos Olímpicos. Atletas, entretanto, estão liberados para participar do evento
Diante de denúncias recorrentes de violações de direitos humanos por parte do governo chinês, diversos países têm anunciado um boicote diplomático aos Jogos de Inverno Beijing 2022, que ocorrem entre os dias 4 e 20 de fevereiro do próximo ano. As informações são da rede Euronews.
O boicote diplomático significa que os governos não enviarão representantes ao evento, como é praxe em Jogos Olímpicos e outras grandes competições esportivas, como a Copa do Mundo de futebol. Em termos práticos e desportivos, não há maiores desdobramentos, vez que os atletas competem normalmente. Trata-se de uma medida que visa a ferir o orgulho do país-sede, algo particularmente relevante para Beijing.
E, aparentemente, a decisão tem surtido o efeito desejado, vez que o governo chinês, como resposta, tem criticado os países pela atitude sob a justificativa de que o gesto viola a “neutralidade política exigida pelo espírito da Carta Olímpica”.
Se a China contesta a decisão, o britânico Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), minimizou o fato e disse que o mais importante é a presença dos atletas. “A presença de funcionários do governo é uma decisão política de cada governo, então o princípio da neutralidade do COI se aplica”, disse ele.
Quem boicotou até agora
NA EUROPA
Lituânia
Envolta em uma crise diplomática com a China após a abertura de uma embaixada de fato de Taiwan em seu território, a Lituânia foi o primeiro país do mundo a anunciar um boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno. O presidente Gitanas Nauseda confirmou que nem ele nem nenhum ministro do governo irá prestigiar os Jogos.
Bélgica
Conforme o primeiro-ministro belga Alexander De Croo afirmou aos parlamentares de seu país no dia 18 de dezembro, “o governo federal não enviará representação aos Jogos”.
O resto da União Europeia
Vários Estados-Membros ainda não se pronunciaram, argumentando que aguardam uma tomada de decisão em comum acordo da União Europeia (UE).
Na França, o discurso é contraditório. O Ministério da Educação, Juventude e Esportes declarou à imprensa que “o esporte é um mundo em si que deve ser preservado tanto quanto possível da interferência política”, confirmando a presença dealgumas autoridades. Do outro lado, o ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, afirmou que Paris é “a favor da posição comum” e que “esta questão deve ser tratada como a Europa”.
A Alemanha deu justificativa semelhante à maioria que não bateu o martelo sobre o assunto, argumentando que “a decisão deve ser tomada em harmonia com nossos amigos europeus”.
Apesar da declarada predileção por uma posição afinada, vários líderes duvidam da capacidade do bloco de chegar a uma decisão conjunta e até mesmo da utilidade de um boicote Caso do primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean Asselborn, que afirmou que “os Jogos Olímpicos são sempre políticos, não há Jogos Olímpicos politicamente neutros”.
Reino Unido
O premiê britânico Boris Johnson anunciou o boicote no dia 8 de dezembro. “Haverá efetivamente um boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno em Beijing”, declarou ele, acrescentando que “o governo não hesita em levantar essas questões com a China, como fiz com o presidente Xi na última vez em que falei com ele”.
NAS AMÉRICAS
O primeiro país a anunciar o boicote foi os Estados Unidos, decisão que se escorou sobretudo nas acusações de genocídio que pesam contra Beijing na região de Xinjiang, devido ao tratamento dispensado pelo país à minoria étnica dos uigures.
O Canadá seguiu o exemplo. O primeiro-ministro Justin Trudeau se justificou: “Nos últimos anos, temos sido muito claros sobre nossas profundas preocupações em relação às violações dos direitos humanos“
NA ÁSIA
O Japão não enviará uma delegação de ministros aos Jogos, mas preferiu não chamar o gesto de boicote, comoexplicou o secretário-chefe de gabinete Hirokazu Matsuno à imprensa: “Não usamos um termo específico para descrever como comparecemos”.
Já o premiê Fumio Kishida, que fez dos direitos humanos a principal bandeira de sua diplomacia ao criar um cargo consultivo especial para lidar com a questão, disse que espera estabelecer uma relação construtiva com os vizinhos. “O Japão acredita que é importante para a China garantir os valores universais de liberdade, respeito pelos direitos humanos básicos e o Estado de Direito, que são valores universais na comunidade internacional”, disse Matsuno.
NA OCEANIA
A Austrália foi o primeiro país a seguir o passo de Washington, anunciando o boicote em 8 de dezembro. O primeiro-ministro Scott Morrison usou o mesmo argumento dos abusos dos direitos humanos, mas citou ainda as recentes sanções impostas por Beijing a Camberra. A relação bilateral entre as nações está desgastada, e o embaixador da China em Camberra, Cheng Jingye, anunciou em outubro que deixaria o posto ao fim do mandato.
A Nova Zelândia apoiou Canberra na decisão, justificando que era “a coisa certa a fazer”. No entanto, as autoridades locais enfatizaram que “houve uma série de fatores, mas principalmente a ver com Covid-19”.