O Natal ucraniano tem muito elementos próprios de grandes significados que diferem da celebração de outros povos. Esta tradição está muito viva no sangue de quinhentos mil descendentes de ucranianos que vivem hoje no Brasil, sendo que mais de 80% deles moram no Paraná. A religiosidade é uma das marcas do povo ucraniano; portanto, a comemoração do Natal, assim como para outras religiões cristãs, é uma das suas principais festas. O Folclore Ucraniano Barvínok, sob a coordenação de sua diretora Solange Maria Melnyk Oresten, realizou o início dos festejos natalinos, na noite de sábado 21 de novembro, na sede da Sociedade Ucraniana do Brasil, em Curitiba. Com a bênção de dom Jeremias Ferens, arcebispo da Ogreja Ortodoxa Ucraniana para a América do Sul, cerca de duzentas pessoas oraram, cantaram e festejaram com o tradicional banquete de abertura dos festejos natalinos. Veja a receita de Holubtsi (charuto de repolho com trigo sarraceno) ao final e as demais no You Tube.
A celebração, chamada de Pelepivk, o equivalente ao Advento de outros credos cristãos, começou com a entrada do Didukh (representa os antepassados, os mortos, bem como a fartura e a boa colheita). Arranjo de feixe de trigo, o Didukh, com seu ritual sagrado, foi trazido pelo arcebispo Jeremias Ferens, e depositado num pequeno altar com velas e imagens de santos, na cabeceira da grande mesa instalada no centro do salão da Sociedade Ucraniana. A mesa estava coberta com uma toalha bordada típica do artesanato ucraniano. Embaixo dela, ramos de trigo espalhados. Depois das orações e bênçãos, a ceia foi servida. Esta é a tradicional celebração dos doze pratos, em homenagem aos doze meses do ano ou aos doze apóstolos, forte expressão da cultura ucraniana.
Natal ucraniano revela um rico acervo culinário
Este precioso acervo culinário, trazido pelos imigrantes ucranianos que aqui chegaram no século 19 e preservado por seus descendentes, compõe esta Ceia: Kutiá (trigo cozido e adoçado com mel); Borchtch (sopa de beterraba); Varenyky (pastel recheado com repolho, no caso, cozido); Holubtsi (charuto de repolho/couve com trigo sarraceno); Oseledets (peixe cru na conserva); Pampuchkê salgado (massa recheada, no caso, com repolho e depois frito); Pampuchkê doce (sonho); Nalesnek de cogumelos (panquecas recheadas com cogumelos); Nalesnek doce (panqueca com recheio doce); Zaprachka (molho de cogumelos); Kryjelka (conserva de repolho); Kolatch (pão levemente adocicado em 3 camadas trançadas); Hrin (raiz forte) Uzvar (compota); Pepino Azedo; Broa; Molho de Tomate; e Cebola Caramelizada.
“Uma noite de muitas emoções”
“O Natal é muito rico em detalhes, desde os pratos servidos, até nos detalhes da arrumação da casa” – Solange explica o ritual. “A Ceia começou com a ‘entrada’ na casa, pelos nossos maiores representantes, com o prato mais importante, o Kutiá (trigo adoçado com mel) e o Didukh (o trigo)”. “Foi uma noite de muitas emoções. Primeiramente, porque depois de muito tempo, em função da Pandemia, a Sociedade Ucraniana pode receber pessoas da nossa comunidade. O projeto é trabalhoso, de muitos detalhes, de muita pesquisa, mas de muita importância na preservação da nossa cultura”, diz ela.
Tradições do Natal ucraniano no YouTube
Na verdade, Solange Oresten está falando de um conjunto de ações para a preservação da cultura, usando as ferramentas modernas da internet e das redes sociais. O Folclore Ucraniano Barvínok, pertencente à Sociedade Ucraniana do Brasil, vem trabalhando para preservar, há mais de 90 anos, a cultura e as tradições do povo ucraniano. Em agosto último, lançou mais uma forma de trazer as expressões dessa cultura, com o projeto Barvínok no YouTube. E o primeiro objeto está sendo o Natal ucraniano.
“Iniciamos o projeto com os doze pratos para serem servidos na Ceia e o Didukh; falamos sobre a religiosidade, as Kolhadas (canções de Natal), as crenças ucranianas, tão presentes na nossa cultura. Na noite de 20 de dezembro, devemos gravar a Ceia propriamente dita. Lá colocamos os pratos gentilmente trazidos pelas pessoas que apresentaram as suas receitas trazidas de suas Mamas e Babas. Assim, no canal de vídeo, as receitas podem ser rememoradas ou aprendidas, para seguirmos com nossas tradições”, diz.
Por Eduardo Ganzerla