Além do racionamento de água nas torneiras, a estiagem também impacta diretamente na mesa do paranaense. Maior produtor de feijão do Brasil, o Paraná viu despencar a produção do grão em 2021 com a pior estiagem da história, que assola o estado desde o fim de 2019.
Com a colheita encerrada em julho, a segunda safra de feijão no Paraná ficou 48% abaixo da estimativa. Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab), a estimativa era colher 539 mil toneladas, porém, apenas 282 mil toneladas saíram do campo. O impacto dessa quebra na colheita está no preço do grão mais básico da alimentação do brasileiro, com o pacote de 1 quilo custando entre R$ 7 e R$ 8 no Paraná.
“O maior peso nesse aumento é sem dúvida a estiagem. Até porque poucas áreas de plantio de feijão no Paraná são irrigadas, não devem chegar a 5%”, explica o engenheiro agrônomo Vlamir Brandalizze, analista do mercado agrícola da Brandalizze Consulting. “Se a safra estivesse normal, o consumidor poderia pagar perto de R$ 5 o quilo do feijão” enfatiza.
Segundo Brandalizze, o impacto da estiagem chega em um momento ruim: o preço aumentou exatamente quando o consumo de feijão vem aumentando. “A corrida por feijão, arroz, ovo, que são produtos básicos, está maior nos últimos dias justamente pela queda no poder aquisitivo da população”, explica o consultor.
Para a próxima safra, Brandalizze acredita que o cenário deva melhorar, com mais chuva. Porém, boa parte dos produtores deve migrar do plantio de feijão para milho ou soja, podendo haver redução na área de plantio, o que também impacta no preço. “A tendência é o plantio de feijão ficar mais de lado, para que o produtor rural possa se recuperar plantando outras culturas que rendem mais”, explica.
Estoques
O presidente do Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe), Marcelo Lüders, avalia que metade do feijão que deixou de ser produzido nos campos do Paraná foi em decorrência da seca. O que obrigou o mercado paranaense a buscar feijão preto em outros estados já no mês de maio, quando normalmente isso ocorre em setembro, com a segunda safra já negociada. “O problema é que outros estados também tiveram quebra de safra nesse ano por causa da estiagem”, afirma.
Além disso, a importação do feijão preto da Argentina, prática comum quando a demanda no Brasil é alta, está prejudicada pela cotação elevada do dólar. “Sempre que o consumidor estiver pagando caro pelo feijão é porque o produtor está tendo prejuízo”, enfatiza o presidente do Ibrafe.
Lüders explica que no caso do feijão preto ainda há possibilidade de trazer sacas de outros estados ou mesmo da Argentina quando a demanda é grande no Paraná. Já o feijão carioca é consumido praticamente apenas no Brasil, o que põe tanto o produtor como o consumidor em um “beco sem saída” em momentos de produção alta e baixa. “Quando há excedente de feijão carioca, não tem para onde mandar, e quando falta, não tem de onde trazer porque nenhum outro país consome”, explica. “Aí é o consumidor que paga o preço disso”, aponta.
O Deral confirma que a estiagem está descapitalizando os produtores rurais e mexendo diretamente no bolso do consumidor. “Estamos vivendo uma das piores secas dos últimos tempos, com redução bastante significativa na produção e na produtividade agrícola”, atesta o chefe do Departamento de Economia Rural, Salatiel Turra, em entrevista à Agência Estadual de Notícias (AEN).