Números da pesquisa Monitora Turismo, conduzido pela professora Mariana Aldrigui, da Universidade de São Paulo (USP), indicam que Foz do Iguaçu e Curitiba, os dois principais destinos turísticos no estado, perderam juntas 5 mil postos de trabalho nas atividades ligadas ao turismo em 2020. Ainda, dados setoriais indicam fechamento de hotéis, bares e restaurantes – alguns apontam o encerramento das atividades de um terço das empresas do segmento.
Com isso, a preocupação é de que o setor não tenha estrutura para receber o fluxo turístico no caso de uma eventual alta na demanda por viagens pelo estado.
Superintendente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes de Foz Iguaçu (Sindhoteis), Júlio César de Oliveira diz que a cidade – principal polo turístico do Paraná e terceiro do Brasil – está preparada para uma possível retomada mais vigorosa do turismo, apesar das adversidades. “As empresas estão se preparando. Não estão fazendo grandes investimentos, mas também não interromperam aqueles que já estavam programados. Foz do Iguaçu vai estar melhor preparada [para o turismo em 2021] do que esteve em 2020”, diz.
O representante alega que a cidade começou no último mês a sentir os sinais de retomada. “[A demanda] começou a aparecer quando houve uma pequena queda no câmbio do dólar, pelo turismo de compra tradicional em Foz do Iguaçu. Apareceu [a maior procura] nos finais de semana. É um turismo mais regional. Agora, com o avanço da vacinação a gente já percebe um crescimento de ocupação de hotéis. Ainda em níveis baixos [no mês de julho ficou perto de 30%; em anos normais, fica próximo a 70%]”, afirma. Nos meses anteriores, a ocupação ficou sempre abaixo dos 20%.
Números da prefeitura indicam ainda que o movimento nas Cataratas do Iguaçu, principal atrativo da cidade, subiu 105% entre junho e julho – de 27.739, foi para 56.819. Também mostram que os empreendimentos locais tem contratado mão de obra.
“De fato, está ocorrendo um movimento de reserva, pedidos de consulta. Já mostra uma previsão de retomada”, afirma o superintendente. Isso deve se intensificar nos próximos meses, ele aponta. “A pandemia fez com que houvesse uma demanda reprimida. As pessoas não puderam viajar, não puderam sair. E com o fato de muitos países não aceitarem brasileiros, sem dúvida Foz do Iguaçu se torna uma das melhores opções que se tem de visitação. Especialmente após esse trauma da pandemia. Temos muitas opções de turismo ao ar livre, turismo de natureza, de contemplação. Isso é interessante em termos de atividade segura”, indica.
Também confiante em uma retomada estruturada na cidade, a Itaipu Binacional lançou no mês passado a segunda etapa da campanha de mídia “Vem pra Foz!”, que busca atrair turistas para a cidade do Oeste paranaense. “Com a flexibilização dos decretos e o aumento da vacinação, a expectativa é que os turistas voltem a viajar. No ano passado saímos na frente como roteiro seguro e agora queremos reforçar não apenas esse conceito, mas valorizar a diversidade de experiências que o Destino Iguaçu oferece”, disse em comunicado Felipe Gonzales, presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de Foz do Iguaçu (Codefoz) — a entidade ajudou a desenhar a campanha.
Setor ainda tem reservas de 2020 a serem cumpridas em 2021
A visão otimista do empresariado de Foz não é consenso. Vice-presidente administrativo e de relações institucionais e governamentais da Federação das Empresas de Hospedagem, Gastronomia, Entretenimento, Lazer e Similares do estado do Paraná (Feturismo), com sede em Curitiba, Fábio Aguayo vê com muito mais preocupação a retomada do turismo. “A incerteza está voltando por conta das variantes [da Covid-19] e da discussão sobre a terceira dose das vacinas. Estávamos contando com os idosos voltando ao turismo, até porque eles representam uma grande parcela da nossa economia turística, mas corre-se o risco de não acontecer”, diz.
Para além do medo de uma nova onda, Aguayo diz que há preocupação com reservas feitas em hotéis e resorts no passado e que ainda estão pendentes, o que bloquearia a agenda dos estabelecimentos e, consequentemente, novas receitas. “Ainda não escutei dos colegas sobre a programação de festas de fim de ano. Muitos empresários do nosso setor têm que cumprir ainda compromissos do ano passado, então não podem assumir reserva para este ano. Você fica refém de compromissos assumidos anteriormente”, diz.
Somado a isso, Aguayo destaca o alto número de encerramentos empresariais no setor. Segundo ele, “um terço das empresas do segmento fechou”. Dessa forma, o vice-presidente da Feturismo não descarta uma queda na oferta e preços mais altos para o turista interessado em atrativos paranaenses. “Não estou sendo pessimista. Estou sendo realista”, defende.