Há centenas de relatos, e as vítimas afirmam representar apenas uma pequena porcentagem dos casos
Centenas de mulheres e meninas têm sido sistematicamente estupradas em meio ao conflito que se perpetua na província de Tigré, na Etiópia. Os estupradores são soldados das forças do governo que estão em confronto com os rebeldes locais, informa a rede Voice Of America.
As vítimas relatam que os agressores invadem suas casas e perguntam pelos maridos, pais ou irmãos. Quando não há um homem presente, eles são acusados de combater pelo partido oposicionista TPLF (Frente de Libertação do Povo de Tigré), que comanda a província há mais de 30 anos. E então ocorre a violência.
“Eles apontaram uma arma para mim e gritaram: ‘Nós sabemos que seu pai é um combatente‘”, relatou uma garota de 16 anos que sobreviveu a um estupro cometido por soldados.
Há centenas de relatos semelhantes, e as vítimas alegam representar apenas uma pequena porcentagem das mulheres e meninas que foram atacadas dessa maneira.
Mihira Redae, que dirige um centro de tratamento para vítimas de violência sexual na capital Mekelle, conta que muitos casos não são reportados pelas vítimas. Ela exemplifica com o caso de uma sobrevivente que foi estuprada junto com outras 20 mulheres, mas compareceu sozinha para receber atendimento.
Justiça insuficiente
O governo etíope tem conhecimento da violência contras as mulheres em Tigré, tanto que três militares foram condenados em maio deste ano por estupro, e dezenas de outros foram indiciados. Mas os casos que chegam à Justiça são poucos, dentro de um universo muito maior de violência.
Algumas das vítimas, muitas acompanhadas de seus filhos, recebem abrigo e um local especialmente destinado a mulheres que sofreram violência. Elas vivem escondidas com medo de represálias por terem denunciado seus agressores. Há casos de mulheres rejeitadas por suas próprias famílias por terem sido estuprados.
Tigré está imersa em conflitos desde novembro, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. Em meio aos confrontos entre a TPLF e as forças etíopes, a região enfrenta uma campanha que gera fome e violência e já deteriorou as condições de vida de cinco milhões de civis.