Tensão entre barcos pesqueiros tem aumentado em águas internacionais, e episódios de violência não são incomuns
A pesca ilegal de embarcações chineses deixa em alerta os pescadores do Havaí, nos Estados Unidos. Embora respaldados pela forte presença da Guarda Costeira local nas áreas próximas a território norte-americano, a tensão tem aumentado em águas internacionais, e episódios de violência não são incomuns. As informações são da rede Voice of America (VOA).
A maior fonte de tensão é uma disputa entre China e Filipinas no Mar do Sul da China. Em 2016, o presidente Rodrigo Duterte se manifestou na ONU (Organização das Nações Unidas), e uma decisão arbitral reconheceu os abusos chineses na ZEE (Zona Econômica Especial) marítima filipina. Beijing, porém, ignora a determinação, e desde então é comum a prática de embarcações chinesas de hostilizar pesqueiros estrangeiros.
A disputa entre pesqueiros chineses e de outros países, porém, não se limita ao Mar do Sul da China. Há um alerta de diversos governos ao redor do mundo para o avanço das milícias da China em águas internacionais, ancorado em uma prática recorrente que já ganha contornos globais.
Acusadas de pesca ilegal, as embarcações com bandeiras da China não só geram uma crise ambiental, como desafiam as fronteiras geopolíticas. Como esse avanço se desenrola é o mais interessante – e preocupante – às nações.
Uma reportagem veiculada no portal Washington Examiner, em junho, aponta um padrão na atuação das chamadas “milícias marítimas” da China. Primeiro, os navios se afastam das águas nacionais. Já fora da jurisdição, “apagam” o rastreamento por satélite e invadem mares proibidos sem detecção, uma prática proibida pelas leis internacionais.
Para os pescadores norte-americanos, sobretudo do Havaí, a disputa é desigual, devido às irregularidades que os chineses cometem sem qualquer tipo de supervisão. Os navios de pesca dos EUA, ao contrário, precisam se submeter à severa legislação doméstica e, por isso, enfrentam uma série de restrições.
“Temos níveis de cobertura de observadores independentes de pelo menos 20% em nossa pesca de atum, enquanto a China mal atinge 5%. E temos um conjunto completo de leis, estatutos e regulamentos ambientais”, diz Eric Kingma, diretor executivo de uma associação que representa os pescadores locais.
Enquanto Beijing diz ter cerca de 2,6 mil navios pesqueiros no mundo, especialistas do britânico Overseas Development Institute estimam a frota chinesa em 17 mil. Os EUA, por sua vez, dizem manter menos de 300 embarcações em águas distantes.
Espécie ameaçada
Um estudo publicado recentemente na revista científica Nature sugere que embarcações de pesca chinesa têm atuado de maneira irregular também ao pescar espécies proibidas. Um grupo de pesquisadores afirma que tubarões capturados pelo pesqueiro chinês Fu Yuan Yu Leng 999, na reserva marinha das Ilhas Galápagos, no Equador, em 2017, são de espécies ameaçadas.
Os tubarões em questão pertencem a 12 espécies classificadas como vulneráveis ou em maior risco pela União Internacional para Conservação da Natureza. Destas espécies, oito são protegidas pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção.
O artigo relata que o maior número de espécimes capturadas pelo Fu Yuan Yu Leng 999 foi de tubarão-seda, “a segunda espécie mais abundante nos mercados de Hong Kong e Guangzhou na China, os maiores centros varejistas de barbatanas de tubarão do mundo“. Havia também 122 tubarões-martelo, listado como “criticamente em perigo” de extinção, e 188 barbatanas de tubarão.