Quando inventamos pequenas mentiras para o outro e para nós mesmos, estamos nos afastando de quem somos
Algum tempo atrás, um amigo me disse: “a veracidade é a base de todas as virtudes”. Eu vinha numa busca por compreender as virtudes e como me tornar um ser humano mais virtuoso, então fiquei com essa frase martelando na cabeça por alguns dias. Veracidade era uma palavra que não fazia parte do meu vocabulário. Fui descobrir na internet que “é a capacidade de dizer a verdade”.
Será que eu tenho a capacidade de dizer a verdade? A resposta que veio de bate-pronto era que sim, já que eu não era de contar mentiras. Mas me observando com muita honestidade, percebi que não era exatamente assim. Fui tomando consciência de que contava pequenas mentiras para os outros e para mim mesmo. Algumas vezes, eu dizia que estava chegando em cinco minutos, quando na verdade, ainda iria demorar uns 15. Em outras , quando alguém tinha um comportamento que me incomodava profundamente e se desculpava, eu dizia que não tinha sido nada, que não tinha me incomodado, por exemplo.
Fui percebendo, então, que não apenas eu tinha dificuldade de falar a verdade, mas que esse é um comportamento normal em nossa sociedade. Uma dificuldade generalizada de dizer a verdade. Em algum momento de nossas vidas, aprendemos que dizer a verdade machuca os outros, ou que fazer isso não é educado. Comigo talvez isso tenha acontecido quando, criança, não gostei de um presente que ganhei e disseram que eu deveria agradecer e ficar feliz. Ou quando recusei um pedaço de bolo, mesmo estando com vontade de comer, porque recusar era mais educado. Não sei muito bem.
O fato é que hoje compreendo que ser virtuoso não é ser mais educado, mas ser coerente com a minha verdade. Às vezes, ser virtuoso não é ajudar os outros, se a minha verdade é que estou com dor nas costas. Ser virtuoso é poder não ir ao aniversário do amigo, tendo a coragem de dizer que preciso descansar.
Quanto maior a minha capacidade de fazer isso, mais eu consigo ser eu mesmo. E esse é um dos maiores desafios que tenho hoje: aprender a ser eu mesmo e ficar em paz com isso.
Gustavo Tanaka é autor dos livros 11 Dias de Despertar e Depois do Despertar e acredita que há algo de grandioso acontecendo no mundo. Escreve mensalmente na edição impressa de Vida Simples