Guarapuava, 15 de dezembro de 2025 –
A Câmara de Guarapuava aprovou em primeira votação o Substitutivo Global 12/2025, que projeta um orçamento municipal de R$ 925,5 milhões para 2026. Apresentado como o maior da história da cidade, com um crescimento de 3,4% em relação a 2025, o montante levanta questões cruciais sobre sua real capacidade de transformar a vida dos cidadãos. Em um cenário de crescentes demandas sociais e infraestruturais, a análise crítica dos números é imperativa para além das manchetes.
Um dos pontos mais notáveis e, por vezes, questionáveis, foi a aprovação da Emenda Modificativa 14/2025. Esta emenda reduziu o orçamento do próprio Poder Legislativo em R$ 4,5 milhões, passando de R$ 38 milhões para R$ 33,5 milhões. A justificativa oficial foi um “ajuste fiscal” e “planejamento técnico”. Contudo, a capacidade de cortar uma fatia tão expressiva do próprio orçamento levanta dúvidas sobre a projeção inicial e a real necessidade de tal montante para o funcionamento da Câmara.
A Mesa Executiva da Câmara defendeu a medida como resultado de “projeções realistas de despesas”, assegurando que o novo valor será suficiente para manter as operações legislativas. No entanto, a facilidade com que R$ 4,5 milhões foram realocados do Legislativo para o Executivo, “para reforçar políticas públicas”, pode ser interpretada como uma admissão de que o orçamento inicial da Câmara estava superestimado. Essa manobra, embora apresentada como um gesto de austeridade, pode mascarar uma ineficiência prévia na gestão dos recursos públicos.
A distribuição do orçamento de R$ 925,5 milhões revela as prioridades declaradas da gestão. A Administração Direta absorve R$ 870,87 milhões, com o Poder Executivo ficando com R$ 837,37 milhões e o Legislativo com seus R$ 33,5 milhões ajustados. A Administração Indireta, por sua vez, conta com R$ 54,63 milhões, destinados a instituições como GUARAPUAVAPREV, Fundação PROTEGER, Fundo da Infância e Adolescência e Fundo de Reequipamento do Corpo de Bombeiros.
Analisando as secretarias, Educação (R$ 255 milhões) e Saúde (R$ 214,4 milhões) recebem as maiores fatias, somando quase metade do orçamento total. Embora essenciais, é fundamental questionar se esses valores são, de fato, suficientes para atender às crônicas demandas da população. Filas de espera em hospitais, falta de vagas em creches e a precariedade da infraestrutura escolar persistem, sugerindo que o “maior orçamento da história” pode não se traduzir automaticamente em serviços de excelência.
A Secretaria de Viação, Obras e Serviços Urbanos, com R$ 80 milhões, é a terceira maior beneficiada. Este montante é crucial para a infraestrutura da cidade, mas a alocação precisa ser meticulosamente fiscalizada para garantir que os investimentos resultem em melhorias tangíveis e duradouras, e não em obras pontuais sem impacto sistêmico. A qualidade e a transparência na execução desses projetos são tão importantes quanto o volume de recursos.
Em contraste, outras secretarias recebem orçamentos significativamente menores. A Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres, por exemplo, terá R$ 4 milhões. Diante do alarmante cenário de violência de gênero e da necessidade de programas de apoio e empoderamento, esse valor levanta questionamentos sobre a prioridade real dada a essa pauta. A disparidade entre as alocações pode refletir uma desproporção entre os desafios sociais e os recursos destinados a enfrentá-los.
A origem das receitas também merece atenção. Das receitas correntes de R$ 976,31 milhões, R$ 674 milhões vêm de “Transferências Correntes” (repasses da União e Estado), enquanto R$ 258,9 milhões são de “Receita Tributária” (impostos municipais). Essa forte dependência de repasses externos pode fragilizar a autonomia financeira do município, tornando-o vulnerável a cortes ou atrasos nas transferências federais e estaduais, impactando diretamente a execução orçamentária e a prestação de serviços.
Apesar da apresentação de um orçamento “em equilíbrio” após as deduções obrigatórias, a análise crítica revela que números grandiosos não garantem, por si só, uma gestão eficiente ou prioridades alinhadas às necessidades mais urgentes da população. O crescimento de 3,4% pode ser rapidamente corroído pela inflação e pelo aumento das demandas, exigindo uma administração fiscal rigorosa e uma alocação estratégica que vá além do “maior da história”.
A segunda votação na Câmara será um momento crucial para a consolidação deste orçamento. É fundamental que a população acompanhe de perto, exigindo transparência e questionando as escolhas feitas. Um orçamento é mais do que uma peça contábil; é um documento político que espelha as prioridades de uma gestão e o futuro que se desenha para Guarapuava. A fiscalização social é a garantia de que os R$ 925,5 milhões realmente servirão ao bem comum.
Por Pr. Rilson Mota
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