Acordar às 4h20 da madrugada. Chegar ao Parque Barigui às 5h30 da manhã. E, depois de correr e treinar por uma hora, trocar de roupa dentro do carro rumo à escola, para a aula que começa às 7h10 da manhã, no Colégio Estadual do Paraná, no Centro de Curitiba.
Essa é a rotina das ‘gêmeas corredoras’, Ana e Helena Mess Valerio, de 16 anos. As duas atletas, nascidas em Campina Grande do Sul e moradoras de Pinhais, estão entre os 17 competidores do Paraná que vão disputar a seletiva nacional dos Jogos Escolares Mundiais, entre 7 e 26 de março, em Aracaju (SE).
Convocadas pela (CBDE) Confederação Brasileira do Desporto Escolar, elas são destaques nas provas de 1.500 metros (Ana) e 3.000 metros (Helena).
A jornada esportiva das gêmeas começou aos seis anos de idade, quando elas demonstraram interesse em atletismo, depois de assistirem provas na TV. O pai, o jornalista Anderlin Junior, comprou os equipamentos, buscou informações na internet e começou a orientar os primeiros treinos. “Eu passei a dividir minha vida profissional com o sonho das meninas. Era comum sair cedo do meu trabalho para poder brincar de correr com elas. Nunca medi esforços para estar junto”, conta Anderlin.
A primeira vez que competiram foi em 2014, em Campeche, no litoral de Santa Catarina, ano de 2014. Na época, as gêmeas e os pais delas moravam em Garopaba-SC. Na primeira prova, com nove anos de idade, Ana em 2º e Helena em 3º lugar.
QUENIANOS
O nível de competição foi aumentando e as gêmeas procuraram mais conhecimento. Na TV, viram a equipe de quenianos de Moacir Marconi, o Coquinho, com sede em Nova Santa Bárbara, no Paraná. Ana, Helena e Anderlin visitaram o centro de treinamento. “Treinamos com eles, conversamos, ouvimos seus conselhos e aprendemos que são pessoas simples, focadas e determinados a vencer. Fizemos grandes amigos para o resto da vida, mas não vamos revelar os segredos dos melhores atletas do mundo. Mas sabemos que eles comem muita polenta, dormem muito e treinam todos os dias pela manhã e durante à tarde”, contou Anderlin.
‘GRUDADAS’
“Elas são muito grudadas”, conta o pai Anderlin. “Às vezes quando uma não tinha conseguido o pódio, em uma prova que só a primeira era premiada, elas combinavam de subirem juntas ao pódio”, diz. Em em 2017, no Circuito de Rua de Curitiba, elas entraram na reta final em 1º e 2º lugar, muito próximas. Em vez de um duelo épico pela vitória, decidiram cruzar juntas, de mãos dadas, a linha de chegada.
MUNDIAL
Os Jogos Escolares Mundiais, conhecidos também como Gymnasíade, começou em 1974. É o maior evento da Federação Internacional do Desporto Escolar, reunindo atletas de 13 a 18 anos. As gêmeas estão motivadas para buscar a vaga na competição mundial. Nas pistas, no ano passado, Ana conquistou a medalha de prata na competição sul-americana realizada em Encarnación, no Paraguai. E Helena foi destaque nos campeonatos nacionais ocupando as primeiras colocações. Segundo o pai, Anderlin Júnior, as gêmeas ficaram entre os três primeiros lugares em 97% das provas que disputaram até hoje.
ESPINHA BÍFIDA
Ana descobriu na infância que tinha espinha bífida, um defeito no fechamento da coluna vertebral. “Foi uma loucura. Sabe-se lá o que era aquilo. Na época, tínhamos poucas informações. Passamos a procurar especialistas para nos dar explicações. Quando já tínhamos ido a vários, a resposta foi: ‘Pode ser que a pequena Ana apresente algum problema ao caminhar’. Foi doloroso ouvir isso.
Imagine seu filho poder fi car sem andar. Não, Deus, isso não pode ser”, conta Anderlin Junior. No entanto, a pequena atleta superou o problema. “A corrida ajudou muito e o corpo foi se adaptando”, revela o pai. O único sintoma que permaneceu foi a incontinência urinária. Em muitas provas, ela acabou fazendo xixi enquanto corria, o que não é incomum no atletismo.
CORRENDO COM ADULTOS
Quando as gêmeas começaram a competir, o pai Anderlin Junior reparou que faltava competitividade. Segundo ele, as provas infantis eram mal organizadas, com pouca atenção, fáceis e com poucos participantes. “Com o tempo fomos concluindo que era preciso ampliar os horizontes, buscar mais dificuldades, para assim aprimorar e crescer dentro do esporte. Passamos então a correr junto aos adultos. No Brasil, as confederações proíbem a participação de crianças nestas provas. As meninas eram tão insistentes que um grupo que organizava aprovou a participação, desde que eu, pai, ficasse responsável e estivesse junto”, contou.
LIVRO
A história das gêmeas corredoras vai virar livro. Anderlin Junior prepara o lançamento de ‘Ana e Helena – Criando Vencedores’, que está em fase final de produção. “Mostra que os pais podem sim descobrir talentos nos filhos, basta dar oportunidade a eles”, conta o jornalista, pai das atletas. “O livro é importante para os pais e mães que precisam organizar melhor a vida profissional para não perderem o mais importante da vida, os momentos únicos com os pequenos”, explica.
EQUIPE ANA E HELENA
Responsável Técnica: Dione d´Agostini
Psicóloga esportiva: Joice Custodio
Apoiadores: Hidrolight e Bolsa Atleta
Fonte: Bem Paraná