Pesquisadores e técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), começarão, a partir de abril, a visitar cerca de 30 polos produtivos de nove macrorregiões agrícolas do Brasil. O objetivo será promover o aumento da eficiência de uso dos fertilizantes e insumos no campo, diminuir custos de produção dos produtores rurais e estimular a adoção de novas tecnologias e de boas práticas de manejo de solo, água e plantas.
A ação vai se chamar Caravana Embrapa FertBrasil e está entre as medidas de curto e médio prazo do Plano Nacional de Fertilizantes, que será lançado pelo governo federal nas próximas semanas, para reduzir a dependência externa por importação de produtos e tecnologias, situação agravada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia.
“Nosso objetivo é sensibilizar as lideranças ligadas às cadeias produtivas da agropecuária, além de técnicos, consultores e multiplicadores, para que o Brasil possa superar a crise dos fertilizantes por meio de capacitação e troca de conhecimentos sistematizados entre os institutos de pesquisa e o setor produtivo, estabelecendo um diálogo da pesquisa com o agronegócio no Brasil, propondo soluções tecnológicas para cada um desses 30 polos agrícola”, explicou Celso Moretti, presidente da Embrapa.
Segundo ele, a caravana itinerante poderá abordar questões práticas e de impacto imediato, que ao serem adotadas poderão promover uma economia de até 20% no uso dos fertilizantes no Brasil, já na safra 2022/23, podendo resultar em até um bilhão de dólares de economia para o produtor rural brasileiro.
Até o final da safra 2022-2023 os pesquisadores percorrerão as principais regiões produtoras brasileiras, enfatizando a importância do manejo sustentável dos solos e fertilizantes para maximizar a eficiência de uso destes insumos, melhorar a produtividade e garantir a competitividade da agricultura e a produção de alimentos no Brasil.
“A gente aprende na agronomia que é preciso fazer a aplicação de adubo de acordo com a análise de fertilidade do solo e análise da folha da planta. Mas sabemos que em muitos lugares do Brasil, eles acabam utilizando uma receita pronta, um pacote tecnológico genérico. Por exemplo, 500 kg/ha fertilizante NPK [nitrogênio, fósforo e potássio] independentemente da fertilidade do solo ali presente”, mas, de acordo com o preço do fertilizante, destacou Moretti.
“Esta caravana também nos trará um diagnóstico preciso e regionalizado dos reais desafios de curto prazo dos produtores rurais, para que as ações do Plano Nacional de Fertilizantes sejam cada vez mais aprimoradas, pois o Plano foi construído pelo governo e o setor produtivo”, ressalta Bruno Caligaris, diretor de Projetos Estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE-PR).
As atividades presenciais serão voltadas para técnicos de extensão rural, técnicos de cooperativas, sindicatos e associações rurais, e produtores líderes, pretendendo atingir cerca de 10 mil profissionais, tornando-os multiplicadores das técnicas e orientações repassadas pela equipe de pesquisadores e analistas da Embrapa e parceiros que integrarão cada Caravana.
Após cada passagem da Caravana Embrapa em uma MacroRegião agrícola, a Embrapa modulará digitalmente o conhecimento sistematizado para alimentar um hotsite e contribuir para construção de uma ampla plataforma digital de conhecimento sobre o tema, que poderá ser ofertado à multiplicadores de referência, tais como CNA/SENAR, EMATERs e cooperativas agroindustriais.
Esta será a segunda caravana itinerante realizada pela Embrapa. Entre 2013 e 2015 a empresa percorreu também os principais polos produtivos do país para divulgar soluções tecnológicas para controlar a lagarta Helicoverpa armigera, praga exótica que invadiu o território brasileiro causando fortes prejuízos para as principais culturas agrícolas.
CINCO FRENTES DE PESQUISA
A Embrapa e instituições parceiras também tem outras ações em sua programação de pesquisa para ajudar diminuir a dependência brasileira de fertilizantes importados. “Nossa meta é reduzir em 25% a demanda por fertilizantes importados até 2030. O Brasil não tem uma vara de condão para mudar isso do dia para a noite”, afirmou o presidente da Embrapa. Por isso, segundo ele, a empresa priorizou cinco frentes de pesquisa: biofertilizantes, organominerais, fertilizantes nanoestruturados, agricultura de precisão e condicionadores de solo com pó de rocha.
Além da iniciativa em parceria com a Embrapa, o Governo Federal, por meio do MAPA e da SAE-PR, está desenvolvendo estratégias de fomento e financiamento para aumento da produção de bioinsumos, fertilizantes organominerais, nanotecnologia e agricultura digital no âmbito do Plano Nacional de Fertilizantes. “A agricultura brasileira é forte, vai continuar forte, e temos que dar as alternativas para ela continuar trabalhando”, ressaltou a ministra Tereza Cristina.
O Brasil, atualmente, consome cerca de 8,5% dos fertilizantes a nível global, ocupando a quarta posição. China, Índia e Estados Unidos aparecem no topo da lista de consumo. Esses países, ainda, são grandes produtores mundiais de fertilizantes, à exceção do Brasil, que importou em 2021 cerca de 89% das 43 milhões de toneladas consumidas na produção agrícola. No país, as culturas de soja, milho e cana-de-açúcar respondem por mais de 73% do consumo de fertilizantes.
A Rússia é responsável por fornecer 25% dos fertilizantes para o Brasil. Junto com a Bielorrússia, chega a fornecer mais de 50% do potássio consumido pelo agricultor brasileiro anualmente.
Fonte: Embrapa