Empresas e bancos estatais chineses têm investido bilhões na América Latina, alavancando interesses econômicos dos asiáticos no continente
A América Latina tornou-se parte fundamental do projeto de expansão da influência global chinesa. A região estreita cada vez mais seus laços com Beijing, segundo a Radio Free Asia. Setores como mineração, produção e distribuição de energia elétrica têm crescente investimento chinês, em projetos pouco transparentes que geram renda e, invariavelmente, um gigantesco impacto ambiental.
Um relatório de Evan Ellis, professor de pesquisa de Estudos Latino-Americanos do Instituto de Estudos Estratégicos do Exército dos Estados Unidos, retrata como a pandemia de Covid-19 ajudou a acelerar a influência chinesa no continente.
“A Covid-19 causou contratempos econômicos em vários desses países [da América do Sul], de modo que agora é mais provável que eles concordem com alguns projetos chineses que eles teriam rejeitado no passado”, analisa Ellis.
A China tem importado cerca de 75% do minério de ferro comercializado no mundo e cerca de 60% de seu minério de cobre de países latino-americanos.
Os países latino-americanos aderiram ao projeto chinês “Nova Rota da Seda” (Belt and Road Iniciative, da sigla em inglês BRI), iniciativa lançada pelo governo Xi Jinping em 2015 que financia projetos de infraestrutura no exterior em quase 70 países.
Nos últimos 20 anos, o comércio bilateral cresceu 25 vezes, de US$ 12 bilhões em 1999 para US$ 306 bilhões em 2018, colocando a China como o segundo maior parceiro comercial da América Latina, atrás dos Estados Unidos.
BRI em 18 países latinos
Para David Dollar, membro da U.S. Brookings Institution, a BRI é um assunto controverso no Ocidente por causa da falta de transparência. Ele aponta que há dificuldade em obter informações confiáveis sobre as finanças da iniciativa, bem como sobre projetos específicos e seus termos.
De acordo com o Conselho do Atlântico com sede nos EUA, o Panamá, em novembro de 2017, tornou-se o primeiro país latino-americano a endossar oficialmente a BRI, cinco meses após ter trocado os laços diplomáticos de Taiwan pelos da China.
Nos próximos dois anos, 18 dos 33 países da região adeririam à BRI. As exceções são gigantes: Brasil, Argentina, Colômbia e México – as quatro maiores economias da região, responsáveis por quase 70% de seu PIB – seguiram de perto a iniciativa, mas não assinaram.
Impacto ambiental e indígenas
A alta concentração da atividade chinesa nos setores agrícolas da América Latina tem aumentado consideravelmente a demanda em relação aos sistemas de abastecimento de água e aumentado o desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa, de acordo com um estudo de 2015 coordenado pelo Instituto de Governança Econômica Global da Universidade de Boston.
Alguns projetos, como centrais hidrelétricas, provocaram protestos de grupos indígenas em vários países da América Latina.
Eletricidade
Os chineses também têm encaminhada uma proposta para dominar a “conectividade elétrica” na América Latina, um assunto coberto por Evan Ellis e publicado recentemente no site da Fundação Jamestown, sediada nos Estados Unidos.
O artigo de Ellis, publicado em 21 de maio, mostra como as empresas chinesas se envolveram na geração, transmissão e distribuição de eletricidade em toda a região, expandindo sua posição em atividades-chave para a “conectividade” das economias latino-americanas.
Essa abordagem também se estende à construção e operação de portos, estradas, ferrovias, telecomunicações, comércio eletrônico e outras infraestruturas.
Mas nem tudo tem funcionado como planejado. Uma ferrovia transcontinental apoiada pela China, destinada a ligar o Brasil, na costa atlântica, ao Peru, na costa do Pacífico, desencadeou críticas porque não levou em conta as preocupações ambientais. Ela passaria por ecossistemas sensíveis na região amazônica.