Em 2021, 596 pessoas passaram a circular em média na Cracolândia, no Centro de SP, número maior do que o registrado em 2019 e 2020. Dados da Prefeitura de SP foram contabilizados com base em fotos tiradas por drones pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Região da Cracolândia é alvo de operação policial contra o tráfego de drogas, nesta sexta-feira (18) — Foto: Reprodução/ TV Globo
O número de pessoas que vivem no fluxo da Cracolândia, na região central de São Paulo, voltou a crescer no ano de 2021, segundo um levantamento realizado pela prefeitura com base em fotos tiradas por drones pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Em 2019, foram contabilizadas entre janeiro e novembro, em média, 526 pessoas frequentando o local. Já em 2020, com a pandemia, a média caiu para 486 pessoas. Em 2021, o número registrado foi maior dos últimos dois anos: 596 passaram a circular em média na Cracolândia.
Com as tentativas de resolver a questão da Cracolândia, sem resultado pela Prefeitura, ONGs denunciam também o aumento da repressão policial nos últimos anos na região. Em maio de 2020, uma operação da Guarda Civil para apreender drogas terminou em confusão, houve feridos e correria.
Entre janeiro e novembro de 2021, a média de pessoas que passou a frequentar a região ficou em 596. — Foto: Reprodução/ Tv Globo
Média de frequentadores
- Entre janeiro e novembro de 2019: 526 pessoas
- Entre janeiro e novembro de 2020: 486 pessoas
- Entre janeiro e novembro de 2021: 596 pessoas
Já em abril de 2021, a ONG Craco Resiste denunciou a violência durante as abordagens, vídeos divulgados mostram os guardas civis atirando balas de borracha, spray e dando golpes de cassetetes nas pessoas. Em julho, um outro vídeo foi divulgado mostrando uma cena de agressão a um homem sentado no chão.
A ONG Iniciativa Negra pesquisou que os orçamentos destinados para a Cracolândia por meio dos programas sociais da capital, desde 2014 e concluiu que o investimento não chegou como deveria.
“A política de drogas não tem uma secretaria municipal sobre isso. Então, o recurso fica distribuído em várias secretarias, ele é intersetorial e mesmo quando está em outras secretarias, não fica separado, esse recurso não é específico para drogas. Isso vai criando dificuldade, para que a gente consiga ter transparência e fiscalização do poder público”, afirma Nathália oliveira – socióloga e co-fundadora da iniciativa negra
“Não é o crack que transforma aquelas pessoas em pessoas muito pobres, é a circunstância da vida que faz com que as pessoas se encontrem naquela situação”, completa.
A defensora pública Fernanda Balera, argumenta que a repressão policial no local proporciona maior descaso para a situação dos frequentadores da Cracolândia. “A repressão vai sempre trazer mais sofrimento e uma situação maior ainda de descaso e de falta de cuidado. Então, a gente sabe que o que ajuda essa população é sempre a oferta de cuidado e tratamento”.
“As pessoas parecem que tem medo de você, o usuário não é uma pessoa má, apenas está em um outro momento, um momento difícil, as vezes por questões de perdas, por decepções, ou por opção”, afirma Cleiton que vive na região há sete anos.
Ele chegou na região pelo crack, viveu nas ruas e perdeu parte da visão durante uma operação da Policia Militar, quando foi atingido por uma bomba. Cleiton parou deixou as drogas há dois anos e hoje realiza trabalho de ressocialização na região. “Hoje eu sorrio, hoje sou uma pessoa feliz, sou uma pessoa realizada. Não tenho vergonha de quem eu sou”.
A Guarda Civil Metropolitana informou que os agentes são capacitados com base no respeito aos direitos humanos, com reciclagem constante e que a GCM atua no local para garantir a segurança dos agentes municipais e viabilizar a limpeza constante da área que é feita três vezes ao dia.
Já a Prefeitura de São Paulo informou que o atual programa Redenção atua de maneira mais completa e ampla do que as tentativas anteriores, que basicamente se baseavam em oferecer recursos diretamente aos usuários, independentemente do grau de autonomia. Disse ainda que foram investidos R$ 276 milhões em 2019 e 2020 no programa. Além das abordagens, o programa oferece moradia, com refeições e acompanhamentos em saúde.
Por SP1 — São Paulo
08/01/2022 13h39