Elza Soares morreu hoje no Rio de Janeiro, aos 91 anos, de causas naturais. A informação foi anunciada por meio do perfil oficial do Instagram da cantora. “A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo”, diz o texto assinado por Pedro Loureiro, Vanessa Soares, familiares e a equipe da cantora.
“É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15h45 em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais. Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim”, diz a postagem.
Sobrinha de Elza, Vanessa Soares informou a Splash que ainda não há informações sobre velório e enterro.
Versando entre o samba, a MPB e até a Bossa Nova, Elza foi considerada pela BBC a “voz brasileira do milênio”, em 1999, e venceu o Grammy Latino na década seguinte. Porém, o início na música foi na década de 1950. Ela subiu ao palco do “Calouros em Desfile”, programa comandado por Ary Barroso, e cantou “Lama”. O primeiro contrato foi assinado em 1960, incluindo ainda uma turnê internacional.
Elza contou recentemente no programa “Conversa com Bial” que começou a fazer o scat (uma técnica vocal gutural criada por Louis Armstrong e popularizada por Ella Fitzgerald) sem saber. “Eu botava uma lata de água na cabeça e gemia. Eu pensei, esse barulho vai dar um som maravilhoso”.
Eu achava que ele [Louis Armstrong] me imitava. Eu não o conhecia”, disse a cantora sobre o encontro que teve com o músico na década de 60.
“Eu substituí Ella Fitzgerald na Itália. Ela tinha um show em que cantava Tom Jobim e eu morava por lá com o Garrincha”, disse ainda.
Após mais de 30 álbuns na carreira, a última década marcou uma nova fase para ela. Em 2015, Elza lançou o álbum “A Mulher do Fim do Mundo”, seu primeiro em oito anos. O disco foi visto como um renascimento em sua já consagrada carreira e foi eleito como um dos maiores destaques do ano até mesmo por veículos internacionais.
“Elza Soares fez o álbum de sua vida, em todos os sentidos”, declarou o crítico musical Philip Sherburne da “Pitchfork”. Misturando gêneros como o samba, o rock e o rap, o CD ainda discutia nas letras temas como violência doméstica e negritude.
Foi com “A Mulher do Fim do Mundo” que Elza garantiu sua primeira e única vitória no Grammy Latino, vencendo o prêmio de “Melhor Álbum de Música Popular Brasileira”. Seu disco seguinte, “Deus é Mulher”, de 2018, também foi nomeado na mesma categoria.
Dramas pessoais
Nascida no Rio de Janeiro em 1930, Elza herdou o sobrenome Soares do primeiro marido. Ela foi obrigada pelo pai a se casar quando tinha 12 anos. No ano seguinte, engravidou do primeiro filho e aos 21 anos já era viúva. Dois filhos da cantora morreram de fome ainda nos anos 1950.
A artista morreu no mesmo dia que o ex-marido Mané Garrincha, 39 anos depois. Mesmo após tanto tempo, ela contou que sempre sonhava com o ex-atleta. “Eu viajo para o paraíso quando penso nele [Garrincha]. Sonho com ele até hoje. O Brasil (seleção) morreu com ele”, contou a artista em participação no programa do Bial.
Eles se conheceram em 1962. Casado com outra mulher na época, o craque levou um ultimato da cantora, e foram morar juntos em 1966. Fãs e a própria imprensa perseguiam o casal e diziam que Elza era culpada pelo fim do relacionamento anterior dele.
Elza e Garrincha se separaram em 1982 após um relacionamento conturbado que envolvia vício em álcool e violência doméstica. Com a morte do jogador em 1983, a cantora ficou depressiva e cogitou o suicídio. Ela conseguiu se reerguer após quatro anos, quando voltou a gravar.
O filho Garrinchinha, o único dela com o atleta, morreu em acidente de carro em 1986, aos 9 anos. O 4º filho da cantora a morrer foi Gilson, aos 59 anos, em 2015.
A única coisa do passado que ainda me machuca é a perda dos meus quatro filhos. O resto tiro de letra. Mas filho é uma ferida aberta que não cicatriza. Estará sempre presente.
Em 1999, a cantora sofreu uma queda durante um show no Rio e passou a se locomover de cadeira de rodas — ela passou por cirurgias na coluna vertebral e na lombar por causa do acidente. Nos últimos anos, ela era sempre vista publicamente usando cadeira de rodas e se apresentava sentada nos shows.
Defensora da vacina
No início de dezembro, Elza anunciou que estava com covid e fez um apelo para a importância da vacina. Ela não teve sintomas e já estava com a dose de reforço.
“Você precisa escutar isso e somente eu posso te contar. Fui um susto pavoroso, mas, ao mesmo tempo, uma experiência que passei sem qualquer sintoma e venci o vírus!”, iniciou ela.
“Eu tive covid, gente, e as vacinas salvaram minha vida. Fiz questão de gravar esse depoimento, de mostrar meu exemplo para pedir para vocês que vacinem-se!”, pediu.
“Por favor, vacinem-se! Essa doença horrorosa é muito perigosa. Viva a ciência”, finalizou.
Fonte: Splash São Paulo