Os dois estão em tratamento contra o vício em drogas. Enquanto treinava a escrita do próprio nome, o pai percebeu no rosto de um jovem o sinal de nascença característico do filho com quem não tinha contato.
Pai e filho se reencontram em clínica de reabilitação após 20 anos sem contato.
Ao resolver buscar ajuda e tratamento contra o vício em drogas, Marcos Artemio Barroso não imaginava iria reencontrar um dos filhos que não via há 20 anos. O reencontro aconteceu na última quinta-feira (6). Foi um sinal no rosto do filho, que ele também tem, que permitiu que eles se reconhecessem. Os dois estão em uma comunidade que acolhe dependentes químicos, localizada na zona rural de Timon, cidade vizinha a Teresina.
A família perdeu contato quando Italo ainda era criança, quando os pais resolveram se separar. A mãe e os filhos continuaram morando na Zona Rural de Teresina, já Marcos se mudou para o Dirceu, na Zona Sudeste da capital, e desde então, nunca mais se viram.
Pai e filho se reencontram em reabilitação após 20 anos sem se ver — Foto: Layza Mourão/ g1 PI
Dois dias depois de chegar ao lugar, enquanto treinava a escrita do próprio nome, Marcos – que não sabe ler e nem escrever – percebeu um sinal no rosto do rapaz que estava sentado à sua frente. Ao perguntar o nome do jovem, a surpresa veio com a resposta.
“Eu nem imaginava que ia encontrar meu filho aqui, mas foi por esse sinal aqui no rosto, que ele tem, que eu reconheci. Foi uma coisa boa, mandado por Deus ter ele aqui perto de mim, me dando mais força, porque eu quis desistir, mas ele não deixou”, contou Marcos.
Marcos treina a escrita do próprio nome durante tratamento de reabilitação — Foto: Layza Mourão/ g1 PI
O homem de 50 anos diz que encontra no filho a força de vontade para seguir no tratamento, que tem duração de 12 meses. Ele contou que busca aprender diversas atividades, inclusive ler e escrever, para finalizar o tratamento e buscar um futuro melhor.
“Tô aprendendo a escrever agora. Também vou aprender a ler. A gente faz atividades aqui para usar mais na frente” , contou Marcos.
Apoio mútuo e planos futuros
Pai reconhece sinal no filho e os dois se reencontram em reabilitação após 20 anos — Foto: Layza Mourão/ g1 PI
Ítalo está no Centro há dois meses, e se tornou uma espécie de pai do próprio pai, já que Marcos tentou desistir e o filho o incentivou a continuar o tratamento. Italo também está ajudando o pai a aprender a ler e escrever. Os dois seguem uma rotina diária de atividades e sempre buscam fazer juntos. Eles já fazem planos para um futuro diferente da realidade que viviam até pouco tempo.
“Nós vamos seguir na nossa caminhada, fazer bonito lá fora. Passei uns dias morando na rua, aí que resolvi vim pra cá, e nunca ia imaginar que ia encontrar meu pai aqui. Pra mim, é uma felicidade, nós vamos recuperar o tempo perdido e com fé em Deus vai dar tudo certo”, falou Italo.
Pai e filho durante reabilitação — Foto: Layza Mourão/ g1 PI
A psicóloga do Centro, Ana Carolina Mastrangelo, contou que esse reencontro é um fato inédito na história da comunidade. Segundo ela, já houve casos de pai e filho buscarem ajuda juntos, que já se conheciam, mas um caso como de Marcos e Italo foi o primeiro.
“Se fossem pessoas que tivessem convívio, estariam em comunidades separadas, mas como eles estão se reencontrando agora, ficaram aqui. É um fato novo até pra gente. E esse reencontro vai ajudar os dois durante o tratamento aqui”, comentou a psicóloga.
Atividades ajudam no tratamento
Pai reconhece filho através de sinal e os dois se reencontram em reabilitação após 20 anos — Foto: Layza Mourão/ g1 PI
O Centro conta com diversas atividades que, segundo a psicóloga, são fundamentais para que os acolhidos mantenham a mente e o corpo ocupado durante os 12 meses de tratamento, além do sentimento de acolhimento. Italo sempre busca fazer atividades junto com o pai.
“A gente faz cajuína, assa e limpa as castanhas pra vender, cuida da limpeza, lava as próprias roupas. Tem também a oficina de carros, onde ajeita os carros da comunidade”, contou Ítalo.
Além das atividades, o Centro conta também com acompanhamento psicológico, e atualmente atende 50 homens que buscaram voluntariamente pelo tratamento.
Por Layza Mourão*, g1 PI