Por Pr. Rilson Mota
A cúpula do G20 no Rio de Janeiro expôs um dos maiores dilemas do grupo: sua capacidade de alcançar consensos diante de um cenário global fragmentado. O presidente da Argentina, Javier Milei, protagonizou um dos momentos mais polêmicos ao decidir não aderir à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa promovida pelo Brasil que busca financiar políticas de transferência de renda em países de baixa e média-baixa renda. A decisão de Milei, líder conservador e defensor do capitalismo de mercado, marca um ponto de inflexão na dinâmica do G20, ao desafiar diretamente a lógica das agendas multilaterais apoiadas por grande parte dos países-membros.
A rejeição argentina ocorre em um momento delicado para o país, com a pobreza ultrapassando 50% da população nos primeiros seis meses de governo Milei. Além disso, cortes orçamentários nos comedores populares, que distribuíam alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade, levaram ao fechamento de dezenas de estabelecimentos. A postura de Milei reflete sua estratégia de afastar o governo argentino de programas que considera assistencialistas e baseados em redistribuição forçada de recursos, uma visão que contrasta fortemente com os objetivos da Aliança, que já conta com a adesão de 81 países e mais de 140 instituições e entidades internacionais.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo por consenso durante a cúpula, alertando para as divisões internas no G20. “Se o G20 se divide, ele perde importância a nível global. Para um mundo já tão fragmentado, isso é indesejável”, afirmou. Apesar das críticas implícitas, Milei manteve sua postura firme, reforçando sua rejeição às agendas progressistas promovidas por outros líderes globais, como a taxação dos super-ricos e medidas climáticas mais restritivas.
G20: Consensos Frágeis e Uma Estrutura Desgastada
A Aliança Global contra a Fome, lançada como um dos principais marcos da presidência brasileira no G20, representa um esforço ambicioso para arrecadar recursos e combater a desigualdade global. No entanto, sua implementação depende de adesões formais e de compromissos financeiros concretos, algo que o G20 historicamente tem dificuldade em alcançar. Embora 81 países tenham aderido à iniciativa, a rejeição de um membro como a Argentina expõe a fragilidade da unidade do grupo.
A postura de Milei ressalta um problema maior: a desconexão do G20 com as realidades políticas e econômicas internas de seus membros. Governos que enfrentam crises fiscais e sociais, como o argentino, muitas vezes consideram inviáveis as exigências de programas multilaterais. A Aliança contra a Fome, embora bem intencionada, pode ser vista como um paliativo, incapaz de atacar as raízes estruturais da pobreza e da desigualdade.
Além disso, o G20 enfrenta uma crise de relevância. Iniciativas como a Aliança ou a proposta de taxação global dos super-ricos refletem agendas que, embora amplamente apoiadas, frequentemente ignoram as dinâmicas internas e as prioridades nacionais dos países-membros. O risco é que o G20 se torne uma plataforma de retórica sem resultados práticos, agravando a percepção de ineficácia do grupo.
O Peso da Decisão Argentina
A decisão de Milei de não aderir à Aliança é emblemática de sua visão política, que busca desmantelar o Estado assistencialista e adotar uma abordagem mais liberal para enfrentar as crises internas da Argentina. No entanto, críticos apontam que essa postura pode isolar o país no cenário internacional e dificultar o acesso a parcerias estratégicas e recursos financeiros globais.
Embora as críticas ao G20 e às iniciativas multilaterais não sejam exclusivas de Milei, sua decisão de romper com os consensos globais reflete uma tendência crescente de questionamento das instituições internacionais. Para muitos, a rejeição argentina à Aliança é um alerta sobre a desconexão entre as elites globais e as necessidades reais dos países-membros, especialmente aqueles em crise.
O G20, por sua vez, precisa enfrentar uma questão fundamental: como manter sua relevância em um mundo onde os interesses nacionais frequentemente superam os objetivos globais? Sem respostas claras, o grupo corre o risco de se tornar cada vez mais irrelevante, deixando questões cruciais como fome, pobreza e mudanças climáticas sem soluções práticas.
Em última análise, o desafio não é apenas convencer países como a Argentina a aderir às iniciativas, mas reimaginar o G20 como uma plataforma que equilibre a soberania nacional com a colaboração global de forma mais efetiva e realista.
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