Levantamento registra alta da inadimplência e atinge mais de 63 milhões de pessoas. Saiba como isso afeta a vida dos brasileiros.
O Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil, desenvolvido pela Serasa no mês de outubro, registrou a maior alta do ano com 63,4 milhões de brasileiros inadimplentes. Para entendermos o que esse número significa, vamos fazer uma comparação com o índice de População Economicamente Ativa (PEA) no país, ou seja, a quantidade de pessoas ocupadas.
Em outubro deste ano, o Brasil registrou redução no desemprego, fazendo o número de pessoas ocupadas chegar aos 90,2 milhões, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Relacionando a inadimplência com o número de habitantes do país, 30% da população está com o CPF negativado. Porém, como esse total inclui pessoas fora da idade produtiva (crianças e adolescentes), relacionando a inadimplência ao PEA, mais de 70% das pessoas já perderam a capacidade de pagamento de suas dívidas.
A história das “parcelinhas que cabem no bolso” fez muita gente contratar um empréstimo carregado de juros
A soma das dívidas passa de R$ 253,65 bilhões, uma média superior a R$ 4 mil por pessoa e R$ 1.189 por dívida. É um número muito elevado para um país com média salarial de R$ 2.543. Os maiores responsáveis pela inadimplência são bancos e cartões de crédito, com 28,70% do total de dívidas, seguido pelas contas básicas, como água e luz, com 23,5% e pelo varejo, com 13%.
Como educadora financeira, atendo pessoas do Brasil todo e de várias classes sociais há mais de mais de dez anos e posso afirmar que, em relação aos empréstimos, a maioria das pessoas nem sequer se lembra em que gastou o dinheiro. Grande parte dessas operações foi feita apenas porque o gerente do banco ofereceu ou por causa da publicidade. Não havia um objetivo, nem mesmo planejamento. A história das “parcelinhas que cabem no bolso” fez muita gente contratar um empréstimo carregado de juros – que comprometem o orçamento por vários anos – sem a menor necessidade.
Hoje, um número enorme de pessoas não consegue alugar um imóvel, levantar capital para abrir um negócio ou até mesmo conseguir um emprego formal por estar com o popular “nome sujo”. Por mais que seja uma conduta irregular negar emprego a quem está negativado, as empresas preferem dar oportunidade para quem está com as contas em dia e, com isso, fica cada vez mais difícil obter renda e sair da inadimplência.
O Brasil precisa de educação financeira, pois só assim a população saberá fazer bom uso do crédito e entenderá os estragos que operações financeiras com juros altos podem fazer ao orçamento e à vida prática como um todo. Mas, ao que tudo indica, os governos estão mais focados em medidas populistas, como distribuição de todo tipo de auxílio, do que auxiliar a população a pensar com a própria cabeça. É muito mais difícil governar pessoas conscientes de seus direitos, mas muito mais fácil manipular quem ainda não aprendeu as regras do jogo.
Patrícia Lages do R7