Por Pr. Rilson Mota
A mobilização de agricultores franceses contra o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul ganhou força nesta quinta-feira (21), com manifestações intensas em diversas regiões do país. Em Bordéus, dezenas de tratores bloquearam o porto comercial de Bassens, enquanto manifestantes despejaram pneus e impediram o acesso ao terminal de importação de cereais. Os protestos, liderados pelo sindicato Coordination Rurale (CR), refletem uma indignação crescente no setor agrícola, que acusa o acordo de criar concorrência desleal e ameaçar o sustento de milhares de produtores rurais.
Demandas por igualdade nas regras comerciais
Os manifestantes exigem que os produtos importados do Mercosul, como carne bovina, aves e açúcar, atendam aos mesmos padrões rigorosos impostos aos agricultores europeus. “Queremos que todos sigam as mesmas regras. Não é aceitável que produtos proibidos na Europa sejam permitidos em outros países e importados para cá, gerando competição desleal”, afirmou um dos agricultores presentes no ato.
A Coordination Rurale, conhecida por sua postura combativa, ameaça intensificar os protestos caso o governo francês não atenda às reivindicações em até 15 dias. Entre as ações prometidas estão bloqueios de transporte de alimentos em cidades como Auch e Agen, no sudoeste da França.
Divisão sobre o acordo UE-Mercosul
O acordo entre UE e Mercosul, que visa eliminar tarifas de exportação para setores como máquinas, produtos químicos e automóveis, é apontado por seus defensores como uma oportunidade para fortalecer os laços econômicos entre a Europa e a América do Sul. No entanto, ele enfrenta forte oposição do setor agrícola europeu, que o considera prejudicial.
Os agricultores franceses alertam que a isenção de tarifas para produtos como carne bovina e açúcar prejudica os produtores locais, já que os padrões de produção sul-americanos são frequentemente menos rigorosos em termos ambientais e de segurança alimentar. A ministra da Agricultura da França, Annie Genevard, e o presidente Emmanuel Macron também expressaram críticas ao acordo, citando riscos de desmatamento e preocupações com carne tratada com hormônios.
Protestos colocam pressão no governo
Os sindicatos agrícolas esperam que a pressão dos protestos leve o governo francês e a UE a reconsiderar ou renegociar o acordo. “Não é apenas sobre proteção ao agricultor francês, mas sobre a manutenção de padrões éticos e de saúde que protejam todos os consumidores europeus”, destacou um representante da Coordination Rurale.
Com o acordo ainda em fase de análise e divisões profundas entre os países membros da UE, os protestos na França refletem um cenário de tensão crescente, em que o equilíbrio entre interesses econômicos e ambientais será determinante para o futuro das relações comerciais entre os dois blocos.
“Opinião: UE-Mercosul: um acordo entre tensões e oportunidades para agricultores de dois mundos”
O acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul traz à tona um dilema delicado: equilibrar os interesses de agricultores de dois blocos com realidades distintas. De um lado, os agricultores franceses, sujeitos a rigorosos padrões ambientais e sanitários, alertam para a concorrência desleal que produtos do Mercosul poderiam gerar. De outro, os agricultores sul-americanos veem no acordo uma oportunidade de expandir mercados e impulsionar suas economias.
A preocupação dos agricultores europeus é legítima. Eles operam em um ambiente onde os custos de produção são elevados devido a regulamentações que promovem sustentabilidade e segurança alimentar. Permitir a entrada de produtos sul-americanos que não seguem os mesmos padrões é, de fato, uma ameaça à competitividade dos produtores locais. Além disso, a isenção de tarifas para produtos como carne bovina e açúcar pode pressionar ainda mais os agricultores europeus, já fragilizados por políticas que nem sempre refletem seus interesses.
Por outro lado, é preciso reconhecer o contexto dos produtores do Mercosul. Em países como Brasil e Argentina, a agricultura é um pilar econômico vital, responsável por sustentar milhões de famílias e gerar divisas para as economias locais. Para muitos, o acesso ao mercado europeu é uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento. No entanto, o desafio para os agricultores sul-americanos será atender às expectativas de qualidade e sustentabilidade impostas pelo consumidor europeu, que é cada vez mais exigente em relação às origens dos produtos que consome.
A solução não deve ser um bloqueio puro e simples ao acordo, mas sim um esforço conjunto para harmonizar padrões e garantir justiça. Seria possível, por exemplo, estabelecer um período de transição para que os produtores do Mercosul ajustem suas práticas a requisitos ambientais e sanitários semelhantes aos da UE, promovendo a troca de tecnologia e conhecimento entre os blocos.
No final das contas, o verdadeiro teste será encontrar um equilíbrio entre a proteção dos agricultores locais e a promoção do comércio justo. Tanto os produtores franceses quanto os sul-americanos são peças fundamentais em seus respectivos ecossistemas econômicos e sociais. Cabe aos negociadores criar um acordo que respeite essas diferenças e garanta benefícios mútuos, sem sacrificar nem a competitividade nem a sustentabilidade. Afinal, o sucesso de um mercado global depende de sua capacidade de unir, e não de dividir.
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