O escritor e comentarista Adrilles Jorge foi demitido da rádio Jovem Pan nesta quarta-feira, 9, após fazer um gesto que foi associado ao nazismo, na esteira da polêmica iniciada pelo podcaster Monark, Bruno Aiub. Ao encerrar sua fala em um programa da emissora, o escritor levou a mão à altura da cabeça. Nas redes sociais, usuários apontaram semelhança com a saudação nazista “sieg heil”, utilizada durante o período do Terceiro Reich alemão.
Ao se despedir, Adrilles levantou a mão direita de forma retesada e, em seguida, deu risada. Em vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver o apresentador William Travassos falando “surreal” em reação ao comentarista. Usuários compararam a imagem a registros de Adolf Hitler fazendo gesto semelhante.
O grupo Judeus pela Democracia repudiou o episódio, que classificou como intolerável. “Já vimos atrocidades serem ditas nesta TV e rádio, mas um ‘sieg heil’ é absurdo demais, até para a Jovem Pan”, escreveu a entidade. Influenciadores sugeriram pressionar os patrocinadores da Jovem Pan para que o comentarista seja demitido. Outros defenderam que ele seja preso por apologia ao nazismo.
O que diz Adrilles
Ao Estadão, Adrilles disse estar “pasmo” pela repercussão do gesto e atribuiu a polêmica à “cultura do cancelamento”. Segundo ele, o aceno é recorrente em suas participações no programa e se trata de um “tchau”. “Eu jamais faria um gracejo de saudação nazista ao final de um longo comentário em que rechacei veementemente o nazismo”, afirmou. “Me sinto até constrangido de ter de responder algo tão óbvio. Nunca pensei que fôssemos chegar a um nível de surrealismo tão grande”, completou.
Em seu comentário no programa, Adrilles classificou a fala de Monark como “extremamente infeliz”, condenou o regime de Adolf Hitler e argumentou que, em sua avaliação, o comunismo deveria ser igualmente proibido. “Eu acho que ele se expressou mal. (Defender) um partido que prega de maneira aberta que o povo judeu deva ser exterminado é uma declaração extremamente infeliz”, disse.
Adrilles relatou ao Estadão que, após o encerramento da edição, Travassos o questionou nos bastidores se ele teria feito um “sieg heil”. “Eu até brinquei: vou acabar sendo cancelado por má interpretação”, afirmou o escritor.
O comentarista disse considerar que a causa da repercussão negativa é o “calor do momento”, dado que as declarações de Monark foram muito comentadas na internet nesta terça-feira. “É muito ridículo, muito patético. Eu falei 30 minutos contra o nazismo”, afirmou.
Consultada, a assessoria da Jovem Pan confirmou a demissão do comentarista. Em nota, o grupo afirmou que repudia “qualquer manifestação em defesa do nazismo e suas ideias”. Ressaltou também, que os comentaristas “têm independência para emitir opiniões, respeitando os limites da lei, opiniões estas que não refletem as posições do grupo”.
Leia a íntegra da nota:
O Grupo Jovem Pan repudia qualquer manifestação em defesa do nazismo e suas ideias. Somos veementemente contra a perseguição a qualquer grupo por questões étnicas, religiosas, raciais ou sexuais.
No exercício diário de informar e esclarecer nossa audiência, prezamos pelo livre debate de ideias, mas não endossamos qualquer tipo de manifestação que leve ao discurso de ódio e reforce ideias que remetam a um episódio da nossa história que deve ser lembrado como símbolo de um erro da humanidade que não deve jamais ser repetido.
Nossos comentaristas têm independência para emitir opiniões, respeitando os limites da lei, opiniões estas que não refletem as posições do Grupo Jovem Pan.
Fonte: Estadão Conteúdo