Depois de uma série de denúncias de UOL Carros, é possível afirmar que a vida dos motoristas de caminhões arqueados fora da lei está mais difícil. Isso porque, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal, com a repercussão do tema, principalmente após a tragédia envolvendo pai e filho com veículos alterados que deixou dois mortos, foram direcionados esforços em todo o Brasil para esse fiscalização desse tipo de infração.
O policial rodoviário federal Sousa Dantas, chefe da divisão de Policiamento Trânsito de Brasília, afirma que existe uma diferença entre o que é publicado nas redes sociais e o que acontece nas estradas. Segundo ele, os influenciadores do ramo querem criar um ambiente de impunidade para que mais pessoas decidam aderir à moda, e estão tendo sucesso.
“A realidade é que o número de modificações muito acentuadas – com mais de dois metros, por exemplo – não é a maioria. Esses influenciadores querem passar a impressão de que estão andando com esses veículos na cara de pau, impunes, justamente para captar mais adeptos. Que, por sua vez, fazem alterações menores, mas ainda assim, fora da lei”, explica.
Essas alterações menos ousadas, porém, não são menos perigosas. Para se ter uma ideia, a traseira do caminhão de Jetro Mattos não era das mais altas. Ainda assim, em um engavetamento, a cabine do caminhão do seu filho, Gerson, foi completamente destruída ao entrar debaixo de seu compartimento de carga. O acidente provocou a morte de Gerson e sua esposa, Patrícia.
É por isso que, agora, a ordem é clara: caminhões fora do padrão exigido por lei devem ser retidos. Além disso, a PRF enviou orientação para que todas as unidades do país redobrem a atenção com esse tipo de veículo.
Abordagem mais dura nas estradas
Sousa Dantas esclarece que, para estar dentro da lei, a elevação da traseira do caminhão não pode ultrapassar dois graus. Além disso, a alteração deve constar no Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV). Por isso, ao abordar um caminhão arqueado na estrada, o primeiro passo é conferir a documentação, mas isso não basta.
“A gente sabe que muitos fazem a alteração permitida, procuram o Detran para ajustar a documentação, e depois da vistoria elevam mais. Por isso, além de conferir o CRLV, fazemos uma medição da seguinte forma: marcamos dois pontos na longarina do caminhão com um metro de distância entre eles, para respeitar o limite de dois graus, a altura da parte mais alta deve ser de 3,5 cm.”
Há algum tempo, havia duas formas de conduzir a situação: se na medição a altura passasse de 3,5 cm por pouco, o caminhão era liberado, a multa de R$ 195,23 era aplicada, o documento era retido e o motorista tinha um prazo para regularização. Se a diferença representasse um risco para a segurança viária, no entender do policial, o veículo era retido até o ajuste. Mas isso mudou.
“Agora, os colegas recolhem qualquer altura fora do previsto por lei, mesmo que passe por pouco. Quando você retira o veículo de circulação por alguns dias, o motorista infrator fica mais pensativo e não repete a conduta”, avalia o PRF.
Diante dos policiais, os motoristas infratores usam todo tipo de argumento para tentar fugir da multa. “Eles alegam até mesmo que elevaram a traseira porque vão carregar muito peso, mas esbarram em outra infração, por excesso de carga. A verdade é que, influenciado pelas redes sociais, eles fazem isso porque acham bonito”, lamenta Sousa Dantas.
Risco elevado
Sobre os perigos que esses veículos criam nas estradas, a PRF destaca que “o trânsito de caminhões com a traseira elevada constitui grave risco à segurança viária. A prática altera a estabilidade do veículo, aumentando o risco de tombamentos e saídas de pista. Além disso, reduz a eficiência do para-choque traseiro em caso de colisões traseiras, agravando as lesões e aumentando a probabilidade de morte de ocupantes de veículos que sigam à sua retaguarda, pelo chamado ‘efeito guilhotina’.”
Por Paula Gama/UOL