A dose inicial foi aplicada em um voluntário nesta quinta e será o ponto de partida para os testes clínicos de fase 1 do imunizante nacional
história da ciência brasileira ganhou um novo e importante capítulo nesta quinta-feira, dia 13 de janeiro de 2022. Os estudos clínicos da primeira vacina brasileira contra a Covid-19, a RNA MCTI CIMATEC HDT, foram iniciados com a aplicação da primeira dose em seres humanos em Salvador, na Bahia. A cerimônia contou com a presença da comunidade científica, autoridades locais e federais, do Congresso Nacional e ministros de Estado do Governo Federal. O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, astronauta Marcos Pontes, classificou o evento como histórico. “É imprescindível que o Brasil tenha soberania, que ele tenha autossuficiência no desenvolvimento de tecnologias, de insumos farmacêuticos e distribuição de vacinas nacionais e que a gente possa através disso também ajudar os nossos países vizinhos e outros países”.
O imunizante com tecnologia de RNA mensageiro foi aplicado em um voluntário escolhido pelos pesquisadores e que seguiu todos os critérios para participar deste momento histórico para o país. A RNA MCTI CIMATEC HDT é o primeiro imunizante com a tecnologia de replicon de RNA a ter uma fase de estudo clínico realizada em território nacional. O médico infectologista PhD em Imunologia e Doenças Infecciosas e brasileiro, Roberto Badaró, responsável pela pesquisa e pelo desenvolvimento da vacina, deu detalhes do processo. “O objetivo dos estudos clínicos para desenvolvimento de qualquer medicamento ou vacina, no início, é primeiro escolher a dose mais segura e o regime de doses capazes de estimular anticorpos neutralizantes contra o Sars-CoV-2”.
A vacina foi desenvolvida por pesquisadores do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia (SENAI CIMATEC), em parceria com a empresa norte-americana, HDT Bio Corp, com a RedeVírus MCTI e com o financiamento do Governo Federal por meio do MCTI. O médico Steve Reed representante da empresa HCT Bio Corp agradeceu pelo apoio de todos os envolvidos na pesquisa e destacou a importância do imunizante para o mundo. “O HDT tem a missão de melhorar a saúde pública no mundo, desenvolvendo tecnologia que pode ser usada em várias partes do mundo, então temos parceiros em vários países, como Índia, China, Coreia do Sul e África do Sul”, afirmou o pesquisador norte-americano.
“Esse tipo de coisa que nos faz dizer que tudo vale a pena”, disse o presidente da Federação das Indústrias e Empresas da Bahia (FIEB) Ricardo Alban. O Governo Federal, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), operacionalizado pela empresa pública Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP/MCTI), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) investiu só em 2021 R$ 105 milhões em quatro vacinas brasileiras contra a Covid-19 em estudos clínicos – fase I e II. Ao todo, o MCTI investiu na produção de 15 vacinas brasileiras além da RNA MCTI CIMATEC HDT desenvolvida em parceria com a empresa dos Estados Unidos.
Antes da aplicação da dose inicial no voluntário, houve uma explicação para o público presente e veículos de imprensa sobre a vacina brasileira RNA MCTI CIMATEC HCT. O pesquisador Roberto Badaró deu detalhes da tecnologia e da metodologia escolhida para a produção da vacina. “O processo é muito simples, mas é mais avançado que qualquer outra tecnologia de RNA no mundo. Temos a intersecção perfeita entre a tecnologia avançada e capacidade de produção no CIMATEC. Queríamos fazer aqui porque a Dra. Bruna Machado é altamente treinada em tecnologia e aqui temos o melhor centro de nanotecnologia da América Latina. Poucos Lugares no mundo tem a capacidade de trabalhar com a nanotecnologia como temos no CIMATEC. Estou muito satisfeito”. A médica e pesquisadora Bruna Machado é a líder técnica do projeto da vacina brasileira dentro do SENAI-CIMATEC.
O secretário de Pesquisa e Formação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (SEPEF/MCTI), Marcelo Morales e presidente da RedeVírus MCTI, destacou o legado que a vacina brasileira vai deixar para o país. “Nós temos tecnologia agora não só para o enfrentamento da Covid, que é uma doença que veio para ficar e nós teremos que fazer aplicações de reforço, mas também usar essas tecnologias para o tratamento de doenças que são problemas brasileiros como; dengue, zika, chikungunya, febre amarela e com essas vacinas, com o custo muito baixo, a gente vai ser capaz de produzir vacinas de alta tecnologia com uma produção nacional e atendendo a população brasileira — e por que não — os vizinhos, os países da África e outros países. Exportar vacina”.
O ministro da Cidadania, João Roma, também esteve no evento e destacou a importância do imunizante nacional. “De fato é um grande estímulo e uma grande fronteira também, pois implantar uma plataforma como essa que traz autonomia, que traz soberania ao governo brasileiro, ao estado brasileiro para prontas respostas em pandemias como a que estamos enfrentando e mais as que estão por vir, nem sabemos quais são, mas que com um avanço tecnológico como esse à disposição aqui em território baiano com a presença de pesquisadores locais com toda estrutura, isso mostra sim uma nova fronteira. Isso mostra o Brasil se preparando para o mundo do conhecimento apto a buscar soluções para uma sociedade resiliente”.
Ao final do evento, durante entrevista coletiva com a imprensa, o ministro do MCTI, astronauta Marcos Pontes se emocionou. “A gente passou muita dificuldade para chegar aqui e a gente chegou graças ao trabalho deste pessoal”, disse o ministro apontando para os pesquisadores responsáveis pela criação da vacina. “É importante o pessoal notar isso aí: o Brasil merece isso e a gente precisa trabalhar juntos para chegar nesses resultados. Aquela aplicação eu acho que foi um marco para mostra que o trabalho sempre vence as dificuldades. Ele sempre vence aquelas pessoas que tentam minar a situação, e a gente conseguiu. A gente vai conseguir”!
Fonte