Recepcionista disse que documentos ‘de homem’ justificariam valor. Bar em Santos se desculpou e informou que valor da comanda foi corrigido pouco depois.
Caso de transfobia aconteceu em bar de Santos, SP — Foto: Reprodução
Uma mulher transexual de 37 anos desabafou nas redes sociais, alegando que foi vítima de transfobia ao passar pela recepção de um bar em Santos, no litoral de São Paulo, nesta semana. Ao g1, neste sábado (8), Milena Augusta relatou que foi informada de que deveria pagar o valor “para homens” para entrar no bar, já que seus documentos ainda não foram retificados e ainda apresentam o nome de nascimento.
Milena é santista, mas mora atualmente na Itália com o marido. Ela decidiu voltar ao Brasil para passar um período com a família, enquanto se recupera de uma cirurgia. O tempo na cidade também será usado para atualizar seus documentos, que ainda informam seu nome morto – ou deadnaming, termo usado para o nome de nascimento ou outro nome anterior de uma pessoa transexual ou não binária.
Na última quarta-feira (5), Milena decidiu ir com amigos ao Six Sports Bar, no bairro Gonzaga. O local oferece dois tipos de entrada: homens pagam R$ 30, enquanto mulheres pagam R$ 15. Milena conta que tudo corria bem, até que passou pela recepcionista responsável por cadastrar os clientes e entregar as fichas de consumo.
“Ela disse: ‘você vai pagar R$ 30 no final. Eu perguntei o motivo, já que sou mulher; foi quando ela disse que, no RG, dizia que eu era um homem, e ela seguiria o documento”, conta.
Milena conta que questionou a recepcionista sobre o que ela via à sua frente. “Ela disse que via uma mulher, chegou a se desculpar, mas disse que cobraria como se eu fosse um homem mesmo assim”, relembra. Apesar do constrangimento, ela entrou no bar com os amigos, “para não estragar a noite deles”. “Não vou mentir, eu me diverti. Mas, de vez em quando, minha cabeça voltava para o acontecido”, lembra.
Após aproveitar com os amigos no bar, todos foram para outro lugar, onde, segundo Milena, “a ficha começou a cair”. Foi então que ela gravou os vídeos publicados em suas redes sociais, chorando ao relatar o ocorrido. “Em alguns momentos, me questionei se ela não teria culpa, por não ter conhecimento. Mas não, eu não estou errada. Ela não pode me tratar dessa forma”, desabafa.
Bar respondeu à Milena pelas redes sociais, afirmando que valor foi corrigido na comanda — Foto: Reprodução
Valor corrigido
Ela enviou o desabafo ao bar, que respondeu com uma mensagem informando que o estabelecimento “não faz distinção de raça, cor ou gênero”. Disse, ainda, que fizeram o levantamento e verificaram que o valor foi corrigido pela funcionária, e Milena foi cobrada em R$ 15 (veja ao fim da matéria a íntegra do posicionamento).
A mensagem, no entanto, não agradou Milena. “A mensagem é muito bonitinha, mas não foi isso o que aconteceu. Sei o que passei dentro da Six”, diz. Ela diz que não pretende voltar ao estabelecimento por enquanto.
Desde então, ela afirma que tem se emocionado muito ao pensar no episódio em que foi alvo de transfobia, ainda mais por nunca ter passado por uma situação parecida antes. Internautas deixaram milhares de mensagens nas redes sociais declarando apoio a Milena, que demonstrou gratidão pelo carinho.
Six Sports Bar
O bar se manifestou sobre o episódio por meio das redes sociais, confira a nota na íntegra:
“Boa noite,
Primeiramente, gostaríamos de informar que não fazemos distinção de raça, cor ou gênero, sobre o ocorrido, fizemos o levantamento e verificamos que o fato foi imediatamente corrigido pela nossa funcionária, e foi feito pedido de desculpas, sua entrada foi feita no valor de R$ 15 [mulher]. Caso tenha se sentido ofendida pelo fato, gostaríamos de pedir as mais sinceras desculpas, e mais uma vez reiteramos que prezamos pelo respeito a todos”.
Por Juliana Steil, g1 Santos