RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA HUMANIZA ATENDIMENTO DE PESSOAS COM TRANSTORNOS MENTAIS GRAVES
A Residência Terapêutica em Guarapuava, inaugurada em agosto de 2021, é uma alternativa de moradia para pessoas com transtornos mentais psiquiátricos graves e persistentes, incluindo dependentes de álcool e outras drogas, que necessitam de auxílio para realização de atividades diárias e, por motivos diversos, não têm mais vínculos sociais e dependem de cuidados médicos e acompanhamento em tempo integral. Nos próximos meses, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) deve inaugurar uma segunda casa. “Alguns desses pacientes possuem vínculo familiar, mas essas famílias muitas vezes não têm condição psicológica e nem financeira para suprir suas necessidades”, destacou Rosimeri Aparecida Antonete, técnica de enfermagem e coordenadora da Residência Terapêutica.
A Residência é inserida no Sistema Único de Saúde e, atualmente, 6 pacientes são acompanhados por uma equipe multidisciplinar. Segundo a coordenadora da Atenção Especializada, Claudia Cunico Locatelli, o maior fundamento da casa é retomar a autonomia dos egressos e, quando possível, reinseri-los na sociedade. “Nós tentamos resgatar os vínculos familiares e a cidadania dessas pessoas, promovendo laços afetivos para propiciar o restabelecimento dos vínculos, porque esses usuários precisam de um tratamento em caráter de acolhimento em Instituição de longa permanência. E nesses casos, geralmente há resistência para tratamento ambulatorial e maiores fragilidades nas condições de saúde mental”, destacou Claudia.
O TRATAMENTO HUMANIZADO
Uma vez por mês a Residência recebe cabeleireiros, manicures e barbeiros para cuidar dos pacientes. Esses são os únicos profissionais que realizam atividades diretamente na casa. Todos os demais serviços de atendimento psicológico, psiquiátrico, fonoaudiólogo e de fisioterapia, são feitos fora da residência, assim como é feito por pessoas que não estão em tratamento psicossocial.
O cotidiano dos pacientes na residência é semelhante ao de um domicílio comum, com o acréscimo da assistência oferecida para realização de higiene pessoal, alimentação e demais atividades. Nilza Aparecida Amancio é uma das atendentes de serviços gerais da residência e conta que além dos trabalhos pontuais, a casa oferece um acolhimento afetivo diferenciado.
“De onde eles vieram (hospitais psiquiátricos), eles chegaram assustados, machucados e magros. Muitos contam que recebiam castigos físicos com frequência, eram mal tratados. Aqui, além da alimentação balanceada e do cuidado pessoal, eles contam com a equipe como uma verdadeira família, nós somos um coletivo, um apoia o outro”, comentou a atendente.
Para Rosimeri, coordenadora da Residência, o tratamento humanizado é fator fundamental na melhora do quadro clínico e da vida desses pacientes no geral. “Às vezes eles estão mais agitados, alguém da equipe chega, conversa, orienta e consegue acalmar. Essa abordagem, a curto prazo evita surtos repentinos e a longo prazo, contribui para atenuação de traumas, preenchendo a carência afetiva que eles têm. Isso contribui até para a efetividade do tratamento com medicamentos”, salientou a coordenadora.
Para ser inserido na casa, é necessário laudo psiquiátrico, além de histórico de internamento contínuo.
NOVA RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA
Para ampliar o atendimento e aumentar o número de vagas, a Secretaria de Saúde está em processo de reforma da nova Residência Terapêutica, que vai acolher apenas homens.
Segundo o Secretário de Saúde, Jonilson Pires, com a nova unidade, o atendimento vai cumprir as exigências da Portaria Nº- 3.090 do Ministério da Saúde, que reivindica a necessidade da divisão por sexo.
“Pelo atendimento ser muito individualizado e eles precisarem de um cuidado ostensivo e permanente, a divisão garante a segurança e a saúde desses pacientes. Com a ampliação, nós vamos assegurar que eles tenham mais privacidade, melhorando o dia a dia e consequentemente, toda a abordagem”, destacou Jonilson.
A previsão é que a nova Residência Terapêutica seja inaugurada até janeiro.
LEI ANTIMANICOMIAL
Em 2001 foi instituída a Lei Antimanicomial, o maior marco da Reforma Psiquiátrica Brasileira, que iniciou o processo gradual de fechamento de manicômios e hospícios no país. Com a deliberação, os tratamentos passaram a ter um viés mais humanizado, privilegiando a reinserção do paciente no convívio social.
Os Serviços Residenciais Terapêuticos são fundamentais na desinstitucionalização e reinserção dos pacientes que saíram desses hospitais psiquiátricos.